Felipe de Siqueira, treinador do campeão mundial dos 400m com barreiras, ressalta que atleta precisou evoluir nos primeiros 200m para conquistar o título. Ele volta a competir no dia 6
Por Camilo Pinheiro Machado e Guilherme Roseguini / GE
25 de julho de 2022 / Curitiba (PR)
Este espetacular registro feito pelos jornalistas Camilo Machado e Guilherme Roseguini do Globo Esporte, mostra que a caminhada de Alison dos Santos rumo ao título mundial dos 400m com barreiras em Oregon foi planejada passo a passo. E o planejamento foi todo montado pelo perfeccionista e estudioso Felipe de Siqueira. Treinador de Piu e da seleção brasileira de atletismo, o profissional esmiuçou tudo o que o paulista de São Joaquim da Barra precisava fazer para alcançar o seu objetivo na última terça em Eugene.
Campeão com 46s29, o terceiro melhor tempo da história da prova, Alison e Felipe agora focam na melhora da marca e a consequente quebra do recorde mundial de 45s94 do norueguês Karsten Warholm, sétimo colocado na final disputada há dois dias.
“A gente tem as distâncias entre as barreiras e a gente tenta montar um programa, uma estratégia onde o atleta se ajuste a essas distâncias. Isso vai muito do biotipo do atleta, da estatura, do nível de força e do nível técnico. O Alison ainda é um atleta jovem, então a gente buscou o melhor modelo para ele”, disse Felipe, citando o planejamento de 149 passos para Alison nas provas dos 400m com barreiras.
Felipe explicou o porquê de o número de passadas variar entre uma barreira e outra. Segundo o treinador, Alison realiza mais passadas na metade final da prova por estar mais cansado, o que mantém a mesma frequência cardíaca dos primeiros 200m.
“Algumas barreiras nos primeiros 200m ele faz uma passada a menos, então ele corre com 12 passadas quatro barreiras nos primeiros 200m. Depois disso, ele vai para 13 passadas. É uma questão fisiológica também. Ao ponto que ele vai ficando cansado, a gente aumenta o número de passadas para manter o mesmo nível de frequência.”
Siqueira ressaltou que Piu precisou evoluir no seu ponto fraco nos últimos meses, os primeiros 200m da prova. O treinador explicou que precisou minimizar a desvantagem de Alison em reação aos dois principais rivais – Karsten Warholm e o americano Rai Benjamin -, que são bem mais baixos que o brasileiro e costumam largar bem melhor.
“Essa primeira parte da prova está relacionada ao nível de força do atleta e isso você só vai ganhando com o tempo. O Alison ainda é jovem, então a gente trabalha isso de maneira gradativa. A gente sabe que esse (a primeira metade da prova) é o ponto forte do Warholm e do Benjamin, então a gente tinha que tentar empatar isso para ganhar na segunda. Então a gente melhorou os primeiros 200m dele para ele passar a primeira parte da prova junto dos dois. Deu certo”, comentou.
Felipe ainda analisou outro aspecto da prova, o tamanho das pernas de Alison – 1,11m -, o que facilita a sua desenvoltura para superar as barreiras ao longo dos 400m.
“O Alison consegue passar a barreira com as duas pernas e isso ajuda muito numa prova de 400m. Isso é uma coisa que você não consegue observar nos dois. O Rai Benjamin tem a perna direita dominante e o Karsten a perna esquerda. Quando os dois têm uma necessidade de trocar a perna, eles acabam aumentando o número de passos. O Alison tem essa vantagem de dar um número menor de passadas, mantendo a mesma frequência”, frisou.
Feliz com o título, Felipe admitiu que o recorde mundial é um dos seus objetivos e de Alison. No entanto, o treinador frisou que a caminhada para conseguir a melhor marca de todos os tempos é um processo gradativo.
“O que a gente pretende agora é continuar melhorando, continuar evoluindo. O quanto a gente vai melhorar eu não posso precisar. Mas, lógico, 2024 está aí, a gente vai trabalhar até lá e quando temos três atletas de nível na mesma prova, faz-se necessário uma evolução. A gente trabalha para a evolução e, conforme a gente vai se aproximando do recorde, vamos criando uma expectativa. Mas tudo é passo a passo, temos que continuar melhorando para chegarmos a esse número mágico.”
Felipe e Alison retornaram ao Brasil na madrugada da quinta (22). Os dois passarão alguns dias ao lado das respectivas famílias, mas já há treinamento marcado para amanhã. Mesmo com o título mundial, Alison seguirá competindo na temporada internacional pelos próximos meses. No dia 6 de agosto, ele corre a etapa de Silesia, na Polônia, da Diamond League.
“Fizemos uma preparação para o Campeonato Mundial. Usamos todas as competições como preparatórios. Temos mais três etapas da Diamond League: dia 6 de agosto na Polônia, dia 2 de setembro na Bélgica e dia 7 de setembro na Suíça. Só depois disso teremos férias”, finalizou.