Temperatura sobe e professores cobram fim da intervenção judicial na FPJudô

Temperatura sobe e professores cobram fim da intervenção judicial na FPJudô

Protestos e reclamações marcaram a 54ª edição do Torneio Beneméritos de Judô no Brasil, realizado em Itapecerica da Serra.

Por Paulo Pinto / Global Sports
18 de agosto de 2024 / Curitiba, PR

Com o apoio da Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Itapecerica da Serra, a Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou, neste sábado (17), a 54ª edição do Torneio Beneméritos de Judô no Brasil, a competição mais tradicional e longeva do País.

No entanto, um fato inusitado marcou o evento, que, por ser realizado no formato de equipes, reúne as principais forças do judô no Estado de São Paulo e do Brasil. Faixas com protestos pedindo o fim da intervenção judicial na FPJudô tiveram de ser retiradas e, pela primeira vez, professores exigiram o término do processo conduzido pelo jurista Caio Medauar de Souza, o interventor, que sempre participa das cerimônias de abertura, mantendo os ritos da modalidade.

“Chegamos ao ginásio às 7 horas e havia várias placas pedindo o fim da intervenção judicial na FPJudô. Fomos orientados pelo interventor a removê-las, e foi o que fizemos,” relatou Marco Aurélio Uchida, coordenador técnico da federação.

De forma respeitosa, mas enfática, vários professores cobraram o fim do processo, que já se aproxima dos 180 dias sem nenhuma solução. As maiores queixas giram em torno da instabilidade institucional gerada pela intervenção, resultando na quebra e até na falta de renovação de contratos e projetos. “O doutor Caio vem fazendo um excelente trabalho, mas já deu! Chegou a hora de termos um presidente e de a entidade validar suas filiadas institucionalmente. Estamos há meio ano nesse mar de incertezas e insegurança jurídica, e isso já se tornou insustentável”, afirmou o presidente de uma agremiação, que pediu para não ser identificado.

Além dos problemas relatados pelo dirigente, é importante destacar que o ambiente da modalidade está profundamente contaminado, a ponto de a equipe operacional encontrar cada vez mais dificuldades para gerenciar os eventos, que tradicionalmente reúnem milhares de atletas, centenas de membros decomissões técnicas de clubes e dezenas de árbitros. A desmotivação e o desânimo estão espalhando-se pela entidade responsável pela conquista de sete medalhas olímpicas em Paris e os prejuízos tendem a ser irreversíveis.

Várias faixas de protesto foram colocadas no Centro Educacional Poliesportivo Antonio Baldusco © Divulgação

Outro grave problema enfrentado pela equipe operacional é a dificuldade em encontrar arenas esportivas para realizar as competições. Ninguém quer fazer negócios com uma entidade sob intervenção judicial. Até o Campeonato Paulista Sênior, principal competição do calendário esportivo da FPJudô, terá de ser realizado em Itapecerica da Serra, pois nenhum clube se dispôs a ceder ginásio para a entidade.

Outro questionamento feito pelos professores é que todos os ritos da intervenção foram cumpridos, tais como auditorias independentes e assembleias de prestação de contas, que foram aprovadas por esmagadora maioria. Resta apenas a definição da data para a eleição do novo presidente.

Procrastinação

O processo de intervenção judicial é fiscalizado pelos advogados especializados em direito desportivo Fernando Antônio Silva Junior (OAB/DF nº 13.781), William Figueiredo de Oliveira (OAB/RJ nº 84.529) e João Guilherme Guimarães Gonçalves (OAB/SP nº 239.882), indicados pela decisão judicial como membros da nova comissão eleitoral.

A Budô apurou nos bastidores jurídicos os verdadeiros motivos do atraso nesse processo, que a cada dia que passa compromete ainda mais a manutenção da entidade que é a locomotiva do judô no Brasil.

Descobrimos que, desde sua instituição, o processo tem sido manipulado pelo presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), o verdadeiro arquiteto dessa intervenção, cujo objetivo era remover Alessandro Puglia da gestão da entidade o que já foi alcançado.

Sob pressão da CBJ, por meio de Milton Jordão, presidente do STJD da CBJ, a comissão eleitoral está procrastinando o processo, que deveria ter sido concluído em 30 de maio, mas que nem sequer teve o regimento eleitoral validado até agora. Jordão conta com o apoio de Fernando Antônio Silva Júnior para manter o processo estagnado.

Conluio

Seguindo, em tese, as determinações de Sílvio Acácio Borges, presidente da CBJ, Milton Jordão, ex-conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça e ex-procurador do STJD do Futebol, está comprometendo cada vez mais a gestão do judô paulista, defendendo os reais interesses de um dirigente que persegue implacavelmente todos que não compartilham de sua insensatez administrativa.

Resta saber se os advogados William Figueiredo de Oliveira e João Guilherme Guimarães Gonçalves endossarão essa aberração jurídica e aceitarão decretar o fim do sonho de centenas de milhares de crianças e jovens, que veem no judô a única esperança de realizar seus sonhos esportivos. Ou das iniciativas de inclusão social que o judô paulista mantém por meio de parcerias com centenas de prefeituras e equipes que inserem essas crianças no cenário esportivo do Estado.

Encerramos lembrando que, no Brasil, existem milhares de advogados que chegaram à universidade por meio da prática do judô e do esporte como um todo. A comunidade do judô paulista conta com o bom senso e a visão criteriosa daqueles que deveriam legislar com foco na justiça e no interesse social, em vez de atender aos interesses de mentes doentias e movidas pela vingança.

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