Não bastasse o Brasil ter realizado uma campanha pífia na China, o gestor da entidade é acusado de atender interesses pessoais e é suspeito de outros desmandos.
Por Paulo Pinto / Global Sports
14 de agosto de 2023 / São Paulo (SP)
Originalmente programada para 2021, a 31ª edição dos Jogos Universitários Mundiais (Universíade) de Verão da Federação Internacional do Esporte Universitário realizou-se de 28 de julho a 8 de agosto na cidade chinesa de Chengdu. Cerca de 6.500 atletas de 113 países competiram em 269 eventos de 18 modalidades, quebrando 22 recordes.
Com desempenho apenas medíocre, o Brasil terminou a disputa na 37ª colocação, com 13 medalhas, sendo sete de prata e seis de bronze. Na edição anterior (2019) a equipe brasileira alcançara a 25ª posição. Mas a delegação brasileira trouxe na bagagem um resultado ainda pior: a suspeita de nepotismo praticado por Luciano Atayde Costa Cabral, presidente da Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU) e vice-presidente da Federação Intenacional de Esporte Universitário (FISU).
O fato amplamente divulgado pelos portais UOL, Globo Esporte e ESPN Brasil acentua a gravidade da situação, com jornalistas de renome apostando na impunidade de mais um dirigente esportivo envolvido em escândalo. Há duas décadas no comando do esporte universitário do Brasil, Cabral acumula cargos na gestão internacional e em autarquias públicas como a Secretaria Municipal de Educação de Maceió e na Secretaria Executiva de Educação do Estado de Alagoas.
Gostaríamos de compreender a mecânica de raciocínio de um gestor que, apenas do governo federal, recebeu e administrou R$ 24 milhões em 2022. Será que dirigentes como ele se desconectam da realidade e passam a raciocinar e a trabalhar somente em causa própria, considerando-se acima da lei?
Cabral levou à China o filho Leandro Cabral para jogar tênis, sem que tivesse disputado a seletiva nacional. Alguns colegas detalharam que o jovem não venceu nenhum set, mas qual é a relevância disso, já que nada pode ser mais grave do que a própria presença dele nos jogos?
Triste legado
É esta a herança que Luciano Cabral vai deixar para seus filhos, família e alunos de Maceió? É muito triste ver um dirigente que tanto fez pelo esporte universitário, um homem com origem familiar fundamentada no esporte, terminar sua trajetória vencido pelo sentimento de impunidade que habita a gestão pública do Brasil. Aliás, não é somente triste, é trágico!
Será que os trocados economizados pelo gestor público para levar seu filho para passear na China apagarão as marcas que ficarão num jovem que certamente não engendrou o plano pastelão? Será que o dirigente, ao se perpetuar no cargo, perdeu os sensos de responsabilidade e justiça e o compromisso com a coisa pública?
A grave denúncia foi feita pelo ex-tenista e hoje treinador Neco Haddad Bartos, em sua conta no Instagram, e foi repercutida pela primeira vez pelo UOL. Agora resta saber como o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público Federal, o Ministério do Esporte, o Comitê Olímpico do Brasil e demais autarquias agirão neste caso.
Histórico de reincidência
Além do filho do presidente, a CBDU levou mais dois tenistas para a competição, ambos vencedores das seletivas nacionais: Jackson Xavier e Tayná Mendes. Leandro Cabral não participou das seletivas. Em julho a entidade divulgou a convocação de Jackson e Tayná, campeões da seletiva nacional, mas não mencionou a presença de Leandro Cabral. A CBDU colocou o filho do dirigente na comitiva, achando que ninguém iria perceber, mas tudo deu errado.
A mãe de Leandro e esposa de Luciano, Joelma Marinho, também já exerceu função na CBDU (nutricionista) e nos Jogos Universitários Brasileiros, principal competição organizada pela entidade. Depois, foi substituída por Lis Marinho, sobrinha dela.