Após um processo diplomático e logístico complexo, as medidas necessárias foram tomadas para que pelo menos 50 atletas fossem evacuadas do Afeganistão
Por Helena Sbrissia / Global Sports
25 de agosto de 2021 / Curitiba (PR)
Nessa terça-feira (24), a seleção afegã de futebol feminino e seus familiares conseguiram deixar o Afeganistão com o apoio do governo da Austrália. As informações são da Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FIFPro). Cerca de 75 pessoas foram evacuadas no mesmo processo que elas, o que o secretário-geral da entidade, Jonas Baer-Hoffman, chamou de uma ação “extremamente complexa”.
Em um comunicado oficial, a FIFPro reiterou que “essas jovens estiveram em uma posição de perigo e, em nome de suas colegas ao redor do mundo, agradecemos à comunidade internacional por terem ajudado. Somos gratos ao governo australiano por retirar um grande número de futebolistas e atletas do Afeganistão.”
Nos últimos dias, a emissora estatal australiana ABC relatou que cerca de mil pessoas foram retiradas do Afeganistão em voos com destino à Austrália e, entre elas, pelo menos 50 atletas mulheres e seus dependentes próximos. Quando foi criada, em 2007, a seleção feminina afegã era vista apenas como um ato político em um país que outrora fora comandado pelo Talibã. Contudo, as reviravoltas que se deram no país nas últimas duas semanas tornaram esse ato uma ameaça à vida dessas mulheres.
Khalida Popal, que é ex-capitã da seleção, tornou-se uma figura importantíssima em meio ao caos que o esporte afegão enfrenta, principalmente por prestar apoio e fazer tudo que está em seu alcance para garantir a segurança de suas colegas de modalidade. Segundo ela, “o futebol feminino é uma família e devemos garantir que todas estejam seguras. Elas foram corajosas e fortes em um momento de crise e, apesar dos últimos dias terem sido estressantes, alcançamos uma vitória importante.”
Ela fez parte do grupo responsável pela organização da saída das jogadoras e seus familiares do Afeganistão, e criou uma rede de apoio entre governos estrangeiros para garantir o apoio necessário a todas elas. As jogadoras foram aconselhadas a deletar postagens com fotos da equipe de suas redes sociais porque diversos relatos sobre perseguições às afegãs estavam sendo compartilhados, apesar do Talibã dizer que daria mais liberdade às mulheres.
Em entrevista ao portal alemão DW, uma integrante anônima da seleção fez um relato emocionado. “Não quero perder minha vida por causa desse governo inaceitável. Quero viver e voltar para fazer algo pela minha nação, pelo meu povo e pelas mulheres. O Afeganistão precisa de seus jovens e, principalmente, de mulheres que queiram fazer algo por seu país”, concluiu.
Shabnam Mobarez, de 26 anos, é a atual capitã da seleção e vive nos Estados Unidos. Ela fez um apelo à FIFA para que as atletas fossem salvas do regime imposto pelo Talibã. “Precisamos agir para salvar minhas colegas de time. Elas são minhas irmãs.” Segundo ela, um contato estava sendo mantido com as outras jogadoras, e todas elas relatavam muito medo e apreensão de que os talibãs fossem atrás delas por conta das atividades que exerciam. É com alívio que relatamos que essa história teve um final feliz.