Paris 2024: Uma história impressionante de contrastes e desigualdades

Paris 2024: Uma história impressionante de contrastes e desigualdades

Atletas reclamam de comida ruim, falta de ar-condicionado e escassez de água nos banheiros, enquanto voluntários recebem apenas uma refeição por dia. Em contraste, executivos do COI desfrutaram de luxo e conforto cinco estrelas.

Fonte Raúl Daffunchio Picazo / Inside The Games
14 de dezembro de 2024 / Curitiba, PR

Os atletas, principais protagonistas de Paris 2024, reclamaram da comida, da falta de ar-condicionado e até da escassez de água nos banheiros. Enquanto isso, os voluntários, essenciais para o funcionamento diário dos Jogos Olímpicos, receberam apenas uma refeição por dia como compensação. Em contraste, os executivos do Comitê Olímpico Internacional (COI) viveram uma realidade paralela de luxo e conforto cinco estrelas.

Apesar dos discursos sobre inclusão e igualdade frequentemente proferidos por altos dirigentes e políticos franceses, a realidade de Paris 2024 revelou um cenário bem diferente. A verdadeira igualdade parece estar restrita às declarações públicas, enquanto a prática segue um caminho oposto. Essa contradição tornou-se um dos temas centrais dos Jogos de Paris 2024, onde os valores olímpicos muitas vezes proclamados ficaram longe de serem refletidos no dia a dia de atletas e voluntários.

Reclamações de condições precárias

Os atletas, que deveriam ser os protagonistas dos Jogos, enfrentaram condições adversas longe do conforto proporcionado aos oficiais. “A organização não foi boa. O transporte não funcionou bem. Estava 35 graus e não havia ar-condicionado. Os meninos não dormiram nas duas primeiras noites”, reclamou Santiago Gomez Cora, técnico da equipe argentina de rugby seven. Ele também relatou que “o prédio argentino ficou um dia inteiro sem água” e que “as meninas do hóquei tiveram que mudar de prédio porque os banheiros estavam entupidos e inutilizáveis em função do excesso de fezes”.

Outro relato veio do nadador britânico Adam Peaty, tricampeão olímpico: “Eu gosto de peixe, mas as pessoas encontraram vermes nele. Isso não é aceitável”. Andy Anson, diretor da Associação Olímpica Britânica, também criticou: “Faltaram alimentos básicos como ovos, frango e certos carboidratos, e a qualidade da comida não péssima, com atletas recebendo carne crua”.

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O contraste mais emblemático foi capturado em uma imagem do nadador italiano Thomas Ceccon, que dormia no chão de um parque devido ao calor em seu quarto na vila olímpica. “Não há ar-condicionado na vila, a comida é ruim. Muitos atletas estão saindo por causa disso. Não é desculpa, é apenas um relato do que nem todos sabem”, lamentou o medalhista de ouro em Paris 2024.

Voluntários: trabalho essencial e pouca valorização

A situação dos voluntários não foi menos crítica. Sem compensação financeira, alojamento ou transporte, eles receberam apenas um uniforme e uma refeição por dia como “benefício”. Muitas vezes, essas refeições eram oferecidas apenas nos dias de trabalho. “Nos dão uma refeição por dia, mas apenas quando estamos de serviço. Nos dias de folga, não recebemos nem isso”, disseram dois voluntários suíços que pediram anonimato.

Os 45 mil voluntários, essenciais para o funcionamento dos Jogos, desempenhavam tarefas que iam desde recepção e orientação de espectadores até assistência direta a delegações e autoridades. Em troca, receberam uniformes básicos compostos por 15 peças, como bonés, camisetas, jaquetas, calças conversíveis, meias, tênis, pochetes e mochilas, o que era insuficiente para quem precisava lavar suas roupas constantemente durante os mais de 20 dias de trabalho.

Luxo para os executivos do COI

Enquanto isso, os dirigentes do COI desfrutavam de acomodações de luxo, como o L’Hôtel du Collectionneur, um hotel cinco estrelas cujos quartos custam entre 400 e 800 euros por noite. Além disso, o COI alugou o hotel exclusivamente para seus membros e equipes, com um custo estimado de 22 milhões de euros, de acordo com o sindicato CGT em Paris.

Tony Estanguet e Emmanuel Macron apertam as mãos e comemoram o sucesso da competição © Getty Images

Os membros do COI também tinham transporte particular com motoristas, refeições em restaurantes requintados e com privacidade garantida, enquanto os jornalistas eram mantidos afastados para evitar qualquer exposição das condições reais enfrentadas pelos atletas e voluntários.

Desigualdade estrutural

A realidade dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 expôs um contraste gritante entre as condições enfrentadas por atletas e voluntários e o luxo reservado a oficiais. Enquanto os membros do COI acumulam benefícios e diárias que podem chegar a 15 mil euros, atletas não recebem nenhuma compensação direta do COI, além do apoio eventual de patrocinadores ou comitês nacionais.

Os Jogos Olímpicos, apesar de sua essência amadora e dos valores proclamados de igualdade e inclusão, continuam a gerar milhões de euros que, muitas vezes, não retornam diretamente àqueles que tornam o evento possível.

Concluindo, Paris 2024 refletiu uma realidade VIP para poucos e uma rotina de dificuldades para os muitos que realmente fazem os Jogos acontecerem: os atletas e voluntários. Essa dicotomia revela que, enquanto o espírito olímpico é amplamente celebrado, a prática ainda está longe de honrá-lo plenamente.

Além de todos esses privilégios, os membros do COI desfrutam de um nível de benefícios que vai muito além do imaginado para uma entidade que prega valores de igualdade e espírito esportivo.

Sem precisar arcar com despesas de viagens, acomodações luxuosas, alimentação ou transporte em Paris, esses dirigentes ainda recebem diárias que podem variar de centenas a milhares de euros por dia, dependendo de suas funções. Nos cargos mais elevados, essas quantias chegam a impressionantes € 12.000 a € 15.000 diários, cifras que contrastam de forma chocante com as condições enfrentadas pelos atletas e voluntários que tornam os Jogos possíveis.

Os Jogos Olímpicos, em sua essência, deveriam representar o amadorismo, o espírito olímpico e a glória de competir e conquistar medalhas. No entanto, enquanto os atletas, voluntários e até funcionários de apoio enfrentam limitações e desigualdades flagrantes, milhões de euros são gerados por patrocinadores, vendas de ingressos e transmissões de televisão. Esses recursos, paradoxalmente, não retornam diretamente para aqueles que mais carregam o evento em suas costas — os atletas. Em vez disso, a distribuição de riqueza e benefícios parece estar reservada a uma elite, reforçando uma realidade desconectada do que deveria ser a verdadeira celebração do esporte e da inclusão. Esses recursos vão para os Comitês Olímpicos Nacionais, como o Comitê Olímpico do Brasil, que têm liberdade para utilizá-los como bem entenderem, sem a obrigação de prestar qualquer tipo de explicação.

É importante lembrar que a receita do COI no ciclo 2021-2024 atingiu impressionantes US$ 7,6 bilhões, o que equivale a aproximadamente R$ 46 bilhões, representando um crescimento de 12% em relação ao período anterior e de 45% desde 2013. Esse resultado expressivo foi impulsionado principalmente por contratos de mídia e transmissão, que continuam a ser a maior fonte de receita da entidade.

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