Líderes do Comitê Olímpico da Etiópia são acusados de tráfico humano

Líderes do Comitê Olímpico da Etiópia são acusados de tráfico humano

Quatro líderes do COE, incluindo o presidente, foram acusados de tráfico humano e outros delitos relacionados. O comitê também é réu em um processo movido por dois atletas, junto com as federações de Boxe e Tênis.

Por Gustavo Muñana
10 de outubro de 2024 / Curitiba, PR

A Divisão Arada do Tribunal Federal de Primeira Instância havia emitido decisões, em setembro, suspendendo as assembleias gerais e as deliberações do comitê. O tribunal também ordenou a suspensão das eleições do comitê executivo, que ocorreram em 4 de junho.

O advogado dos queixosos, Ayalew Bitane, disse à BBC: “Suspeitamos que os réus estejam envolvidos em tráfico humano relacionado às Olimpíadas de Paris. Eles usaram suas posições no Comitê Olímpicoda Etiópia para benefício próprio. Ainda não há acusações formais de tráfico humano, mas uma investigação criminal está sendo desenvolvida com as autoridades competentes.”

Ayalew destacou que, apesar dos pedidos do Ministério da Cultura e Esportes e do Gabinete do Auditor Federal, o Comitê Olímpico da Etiópia se recusou a passar por uma auditoria, alegando que a responsabilidade dos acusados será determinada com base nos resultados de uma auditoria independente. Ele mencionou várias irregularidades, incluindo a eleição ilegal de junho de Ashebir Woldegiorgis, Eden Ashenafi e Ato Dawit para um terceiro mandato em uma reunião secreta, com a participação de pessoas que não tinham direito legal de votar.

O processo ocorre em meio a críticas ao Comitê Olímpico da Etiópia, especialmente após o desempenho abaixo do esperado da equipe de atletismo do país nas Olimpíadas de Paris 2024. Apesar da pressão crescente, o presidente Ashebir recentemente afirmou em entrevista à TV estatal que não pretende renunciar.

Federações da Etiópia pedem a suspensão do Comitê Olímpico

Várias federações nacionais registradas na Etiópia apresentaram queixas, pedindo a suspensão do Comitê Olímpico Etíope, em meio às controvérsias em torno das Olimpíadas de Paris 2024. Em um documento de nove páginas enviado ao Ministério da Cultura e Esportes, as federações acusam Ashebir e a diretoria do comitê de agir contra o interesse público, em violação das leis e do estatuto do Comitê Olímpico Internacional.

A queixa alega que o Comitê Olímpico realizou uma assembleia geral em maio e uma eleição da diretoria executiva em junho sem a participação das federações esportivas ou supervisão do governo. Alega ainda que Dr. Ashebir foi reeleito de forma inadequada para um terceiro mandato.

O bicampeão olímpico Haile Gebreselassie é um dos mais eloquentes opositores da atual diretoria do Comitê Olímpico Etíope © Instagram

A transparência financeira é outra questão crítica, com as federações exigindo esclarecimentos sobre centenas de milhões de birr em fundos governamentais e de organizações destinados a eventos como as Olimpíadas de Tóquio e os Jogos Africanos, que, segundo elas, não foram devidamente auditados.

Além disso, segundo relatos da mídia estatal, as federações criticaram a saída antecipada dos atletas etíopes e membros da delegação das recentes Olimpíadas de Paris, antes do encerramento dos Jogos, alegando que isso prejudicou a reputação do país.

Como membros legalmente registrados da Assembleia Geral do Comitê Olímpico e das federações esportivas internacionais, as associações buscam ações administrativas e legais do Ministério da Cultura e Esportes para abordar as supostas violações mencionadas na queixa.

Processo civil contra o Comitê Olímpico Etíope se intensifica em meio a denúncias financeiras

Enquanto isso, um processo civil contra Woldegiorgis e três membros seniores se intensificou na última semana, com acusações de má conduta financeira e desrespeito a uma liminar judicial. Os juízes do Tribunal Superior Federal mantiveram uma liminar que impede o comitê de acessar suas contas bancárias, rejeitando um recurso de Ashebir e seus correligionários. A liminar permanecerá em vigor até que eles compareçam ao tribunal no próximo mês.

Os queixosos, liderados pelo renomado atleta Gebreselassie, acusam Ashebir de organizar uma cerimônia de premiação no Marriott Executive Apartments, em Addis Abeba, apenas um dia após a ordem de bloqueio das contas bancárias do comitê. Durante o evento, Ashebir teria distribuído recursos vinculados a essas contas para diversos profissionais da mídia e outras pessoas. Ele teria afirmado: “Continuaremos a dar prêmios, mesmo que pessoas como Haile Gebreselassie tentem nos impedir.”

Em resposta a essas alegações, os queixosos pediram ao tribunal que recomendasse a acusação dos réus por violação do Artigo 443 do Código Penal.

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