Perseguida pelo regime de Aleksandr Lukashenko, Krystsina Tsimanouskaya sofreu uma tentativa de retorno forçado ao seu País durante as Olimpíadas
Fonte GE
4 de outubro 2021 / Curitiba (PR)
O Comitê Olímpico Internacional afirmou que vai iniciar uma investigação contra os técnicos da Bielorrússia que tentara forçar a volta para casa da velocista Aleksandr Lukashenko durante as Olimpíadas de Tóquio. A atleta conseguiu evitar o embarque e pediu proteção à entidade durante os Jogos. A Unidade de Integridade de Atletismo (AIU, na sigla em inglês), órgão da World Athletics (Federação Internacional de Atletismo), ficará responsável pela investigação.
“O COI e a World Athletics chegaram a um acordo para continuar a investigação e abrir um procedimento formal contra os dois técnicos. Assim, ficou decidido que a AIU – unidade independente criada pela World Athletics para cuidar de todos os assuntos sobre integridade (relacionados a doping ou não) para as modalidades do atletismo – vai conduzir o procedimento, com toda a colaboração e suporte do COI. A AIU vai publicar os resultados de sua investigação assim que for finalizada” disse o comunicado.
Depois de deixar a delegação da Bielorrússia durante as Olimpíadas e receber asilo humanitário na Polônia, a velocista Krystsina Tsimanouskaya disse no último mês que vai se aplicar para trocar sua nacionalidade. A atleta de 24 anos quer passar a defender nas competições de atletismo o País que a acolheu.
“Vamos agora tentar mudar minha cidadania esportiva para poder correr pela seleção polonesa. As condições para a mudança da cidadania desportiva são a quarentena, que costuma durar três anos, mas vamos pedir que seja reduzida para mim, porque a situação é bastante ambígua. Não tínhamos planos de mudar a cidadania esportiva, mas a situação ao meu redor evoluiu tanto que é uma medida forçada. Decidi ficar na Polônia e correr pela seleção polonesa”, disse Tsimanouskaya.
A velocista já havia anunciado que retomaria sua carreira no atletismo, mas agora confirma o plano de correr pela Polônia. Ela ressaltou, porém, que a Bielorrússia continua sendo um lar.
“Mesmo que eu corra pela seleção polonesa, isso não vai me impedir de voltar para casa para meus pais, encontrá-los, ir a lugares em Minsk que amamos visitar com meu marido. Vou representar a Polônia, mas a Bielorrússia ainda é a minha casa, vou voltar lá várias vezes”, disse a atleta.
Relembre o caso
Durante os Jogos de Tóquio, Tsimanouskaya foi obrigada a fazer as malas e levada direto ao aeroporto, onde tomaria o voo de volta para casa por ter feito críticas públicas aos treinadores de atletismo da Bielorrússia. No entanto, não chegou a embarcar, e pediu proteção à polícia e ao Comitê Olímpico Internacional (COI). O caso ganhou repercussão mundial, um inquérito foi instaurado, dirigentes expulsos, e a corredora ganhou asilo humanitário. Nesta sexta-feira, ela relatou o drama vivido nos últimos dias, e não descartou um retorno ao País de origem quando se sentir segura.
“A minha avó me ligou quando já estavam me levando para o aeroporto. Literalmente, tive uns 10 segundos. Ela me ligou, tudo o que ela me disse foi: ‘por favor, não volte para Bielorrússia, não é seguro.’ Quando cheguei ao aeroporto, usei o Google Translate para traduzir para o japonês que precisava de ajuda. Eu fui para a polícia e mostrei a tradução”, contou.
A corredora bielorrussa de 24 anos embarcou para a Polônia, depois de o governo do País abrir as portas para que ela pudesse receber asilo humanitário. A oportunidade interessou a velocista, sobretudo, pela facilidade de seus familiares conseguirem visto para a visitar.
Desde que se recusou a deixar o Japão, a atleta da Bielorrússia recebeu o apoio do COI e do Comitê Organizador da Tóquio 2020, que decidiram acionar uma comissão de inquérito para investigar detalhadamente o caso. As entidades também retiraram as credenciais de um técnico e um dirigente bielorrussos, que foram expulsos da Vila Olímpica. Até então, Tsimanouskaya havia permanecido no consulado polonês, onde foi acolhida e aguardava enquanto as autoridades decidiam como tratar o seu caso.
O Comitê da Bielorrússia é vetado nas Olimpíadas
O Comitê Olímpico da Bielorrússia é chefiado por Viktor Lukashenko, filho do presidente do País, Alexander Lukashenko. Ambos foram proibidos de participar das Olimpíadas de Tóquio em meio a acusações de discriminação, censura e abuso de poder contra atletas que participaram de protestos contra a polêmica reeleição do presidente em agosto de 2020.