Atletas não têm voz no Comitê Olímpico Internacional

Atletas não têm voz no Comitê Olímpico Internacional

Mesmo após a eleição da nova presidente do COI, críticas se intensificam contra a estrutura insular do Comitê, que segue ignorando os atletas, promovendo decisões políticas unilaterais e traindo os princípios da própria Carta Olímpica.

Por Farzad Youshanlou / Sportsin
Curitiba, 5 de maio de 2025

A 144ª Sessão do COI, realizada em Costa Navarino, na Grécia, manteve a Carta Olímpica como ponto de referência crucial — um modelo concebido para preservar a natureza global do esporte e promover a unidade entre as nações.

No entanto, no último 20 de março, o COI elegeu sua nova presidente entre sete candidatos, alguns dos quais atuavam há muito tempo nos bastidores do poder olímpico. Essa presença profundamente enraizada no sistema levanta questionamentos sobre sua capacidade de se desvincular dos desafios e críticas persistentes à governança esportiva e ao próprio movimento olímpico.

“Em última instância, o COI continua incapaz de honrar os princípios da carta que ele próprio redigiu.”

Apesar de a Carta Olímpica reconhecer os direitos dos atletas e desempenhar um papel crucial na definição dos Jogos, uma questão fundamental permanece sem solução: o papel mínimo dos atletas na elaboração e implementação dos princípios que os regem. Na prática, os atletas continuam com pouca ou nenhuma voz nas decisões-chave, e há uma notável falta de transparência por parte dos membros executivos do COI. A Comissão de Atletas, que deveria atuar como sua voz ativa, segue sendo um órgão passivo e ineficaz, distante das preocupações reais daqueles que afirma representar.

144ª Sessão do COI, realizada em Costa Navarino, na Grécia © Sportsin

O COI permanece como uma organização fechada, com uma abordagem de governança de cima para baixo. O bem-estar dos atletas segue sendo marginalizado, especialmente quando colide com interesses comerciais. Um exemplo emblemático ocorreu nas Olimpíadas de Tóquio 2020, quando os horários das finais da natação foram ajustados para atender à grade de transmissão televisiva dos EUA, forçando atletas a competirem no início da manhã. Essa decisão, tomada com pouca consulta, gerou queixas generalizadas sobre queda de desempenho e aumento da fadiga. Mesmo assim, a Comissão de Atletas permaneceu em silêncio, falhando em defender os interesses dos competidores.

Decisões políticas e pouca escuta

Sem consulta direta aos atletas, o COI removeu unilateralmente a marcha atlética de 50 quilômetros do programa dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Um dos eventos de atletismo mais antigos da história olímpica, sua eliminação gerou protestos. Em seu lugar, o Comitê introduziu uma prova mista, considerada por muitos atletas uma medida injusta. Para os marchadores, os 50 km representavam a essência da disciplina — e isso lhes foi retirado sem qualquer participação no processo decisório.

https://www.sicoob.com.br/web/sicoobcentralscrs

A mesma postura excludente se evidenciou na imposição do Artigo 50 da Carta Olímpica, que restringe manifestações políticas dos atletas. Embora o COI insista em manter a política afastada do esporte, tem tomado decisões altamente politizadas, muitas vezes com flagrante dupla moral.

Na prática, o COI opera dentro de uma estrutura burocrática entrelaçada a interesses comerciais e segue amplamente isento de supervisão internacional significativa. Apesar dos compromissos declarados com a ética e a Carta Olímpica — por mais falhos que sejam —, suas ações seguem aquém desses princípios. A discriminação persiste, escândalos sistemáticos de doping envolvendo atores estatais continuam a surgir, e o Comitê falha em reconquistar a confiança da comunidade esportiva global.

Mais grave ainda: há escassa ou nenhuma supervisão eficaz sobre a própria rede de poder do COI, que inclui seus Comitês Olímpicos Nacionais e as Federações Esportivas Internacionais. Em última instância, o COI continua incapaz de honrar os princípios da carta que ele próprio redigiu.

https://www.originaltatamis.com.br/

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