Jorge Bichara, ex-diretor de esportes do COB e funcionário da entidade há 17 anos, se pronuncia sobre sua demissão

Jorge Bichara, ex-diretor de esportes do COB e funcionário da entidade há 17 anos, se pronuncia sobre sua demissão

Último diretor remanescente da Era Nuzman, Bichara é apontado como um dos principais responsáveis pelas campanhas históricas e recordistas dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019 e dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020

Por Helena Sbrissia / Global Sports
28 de março de 2022 / Curitiba (PR)

Na última terça-feira (22) uma decisão polêmica foi tomada por Paulo Wanderley, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Jorge Bichara, o diretor de esportes da entidade em campanhas históricas como as dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019 e Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, foi demitido, causando surpresa e espanto em todos os setores do olimpismo. O próprio Bichara pareceu surpreso com a decisão, visto que, ao ser perguntado sobre o fato, não foi capaz de se pronunciar.

Quase uma semana depois, o portal Globo Esporte lançou uma entrevista exclusiva em que Jorge comentou diversos pontos sobre a sua demissão. Durante a semana a decisão de Paulo Wanderley repercutiu muito negativamente com, inclusive, diversos atletas campeões olímpicos e paralímpicos como Isaquias Queiroz, Thiago Braz, Rebeca Andrade e Bruno Fratus pedindo para que a decisão fosse revertida, o que não aconteceu.

Ao ser perguntado sobre os motivos de sua saída do Comitê Olímpico, Bichara não soube dar uma resposta precisa. “Eu acho que o Comitê Olímpico tem o direito de fazer suas escolhas, tem o dever de olhar todo o cenário e entender como é o Brasil e estabelecer as suas estratégias. O que eu posso falar é que as estratégias que foram trabalhadas até então sob minha liderança compreenderam entender o sistema brasileiro, identificar as nossas potencialidades, trabalhar muito próximo dos atletas, trabalhar entendendo os nossos adversários. Eu gosto dessa relação humana, gosto de estar junto com os atletas nas derrotas e nas vitórias.”

Ele conta que o momento profissional e pessoal é muito difícil para ele, que já trabalhava no COB há 17 anos. Contudo, todas as mensagens de apoio recebidas dos atletas são uma forma de alento no momento difícil. “É muito difícil equilibrar esses sentimentos que eu estou sentindo, que estão passando por mim agora. Traz um conforto, traz uma sensação de acolhimento, de reconhecimento, de valorização de um trabalho que nós fizemos juntos. Eu, minha equipe, os atletas, os treinadores em prol de um objetivo maior que era representar o Brasil da melhor forma possível.”

Bichara reitera que não se preocupa com as politicagens do COB, mas sim com o desenvolvimento e fomento do esporte © Aberlardo Mendes Júnior / rededoesporte.gov.br

Ele continua. “Eu não salto, não corro, não nado, não jogo, minha função, junto com o meu time, é dar suporte para que esses atletas evoluam, para que o brasileiro veja esses exemplos e entenda que o esporte pode ser utilizado na sua vida. Esses exemplos que o esporte traz de resiliência, de não desistir do seu sonho, de buscar sempre o seu máximo, de que o trabalho está na frente do sucesso podem ser utilizados em nosso dia a dia. Que nem sempre os mesmo projetos de sucesso vão resultar numa medalha, mas nem por isso eles podem ser desmerecidos. O esporte traz muito ensinamento e os atletas quando conquistam, eles têm essa voz, eles têm essa capacidade de influenciar, de inspirar pessoas. Essa é a minha forma de tentar contribuir para uma sociedade melhor.”

De saída do COB após 17 anos na entidade, Bichara mostra que sua única preocupação é o esporte

Apesar de toda a situação, Jorge Bichara agradeceu pela oportunidade de ter trabalhado no COB durante todos esses anos, porque entrou na entidade em um cargo baixo e teve a chance de ascender na organização até chegar na diretoria de esportes. “Eu procurei fazer sempre o meu melhor. E o meu olhar é um olhar técnico, de tentar entender o esporte e, como todos os outros países trabalham, e a minha experiência vem de estudar os outros países, ninguém é bom em todos os esportes.”

“Nenhum país consegue resultado em todos os esportes, então você faz escolhas, escolhas de investimento. Os recursos são escassos, se você não trabalhar essas escolhas, você corre o risco de desperdiçar. E não dá para desperdiçar, você tem que focar e assim eu entendo que a política foi bem-sucedida, a política esportiva foi bem-sucedida, nas últimas edições dos Jogos Olímpicos e dos Jogo Pan-Americanos, em que o Brasil alcançou os melhores resultados da história.”

Ele se explicou sobre as divergências com a presidência, que, como já foi detalhado, visava desmembrar a diretoria de esportes. Segundo Bichara, isso fazia parte de uma estratégia construída após uma análise técnica da mesa diretora, mas ele, particularmente, prefere a visão de uma relação de integração entre a entidade e do olhar diversificado para entender e compatibilizar as diferenças de opiniões para dar o melhor cenário possível aos atletas.

“A gente não faz a gestão das pessoas, a gente faz a gestão do relacionamento entre as pessoas sempre em busca do resultado melhor. Eu entendo que o esporte é muito complexo, e ele é muito dinâmico então eu tenho que buscar eficiência. E nesse momento a proposta que eu apresentei de trabalho ao longo desse tempo na visão da presidência não atendia mais o que é entendido como o correto. E eu respeito.”

Rogério Sampaio chegou a divulgar que em dezembro de 2021 Jorge pediu demissão ao presidente do COB, e que esse seria mais um dos fatores que levaram à demissão. “Houve sim essa reunião. Existem vários pontos dentro dessa reunião, obvio é uma questão longa que eu não entendo que foi um pedido formal de demissão. Foi uma arguição, um entendimento do porquê dessa mudança em virtude do que a gente conquistou. E talvez da minha incapacidade de trabalhar em um modelo onde, comprovadamente, eu não consigo identificar uma eficiência do seu método proposto”, argumentou Bichara.

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Quando surgiu um argumento relacionado ao orçamento alto com que Jorge lidava, ele prontamente descartou a hipótese como um dos motivos que levaram à sua demissão. “As decisões são tomadas baseadas em informações, em estratégias. Essas confederações, de canoagem e ginástica, eu tenho uma relação muito boa com a direção técnica então essas decisões a gente tomava em conjunto em relação aos planejamentos. O esporte de alto rendimento exige um dinamismo no seu processo decisório porque tudo acontece muito rápido, ainda mais hoje em dia.”

“O que você faz é trabalhar para potencializar a chance de resultado. O mundo investe em oportunidades, o esporte de alto rendimento que eu vi pelo mundo adota esse modelo. Você não pode perder oportunidades e isso faz com que você tenha que tomar decisões. O risco de acertar e errar, principalmente errar, existe, então alguém tem que tomar a decisão e eu tenho que ser responsável por isso, pelo o que dá certo e pelo o que dá errado. Mas eu entendo que o saldo foi positivo.”

Problemas políticos entre a diretoria do COB

Jorge Bichara encontrava-se, no COB, no meio de um racha político entre o presidente Paulo Wanderley e seu vice-presidente, Marco La Porta. Antes aliados, eles passaram a se comportar como adversários e, segundo os rumores, irão se enfrentar nas eleições de 2024. Jorge Bichara é muito próximo, por sua vez, de La Porta e de Manoella Pena, ex-diretora de comunicação e marketing que deixou o cargo no final de 2021. Segundo fontes, o trio era conhecido por questionar o presidente durante as reuniões da diretoria.

Ao ser perguntado sobre um sentimento de isolamento por conta de sua amizade com La Porta, Bichara também negou que fosse o caso. “Eu fiz parte de um grupo em que você cria relações. As relações se estabelecem dentro do ambiente corporativo. O vice-presidente foi eleito junto com o presidente e foi chefe de missão nas últimas participações do Brasil em Jogos Pan-Americanos e Jogos Olímpicos então é normal que se estabeleça uma relação de contato.”

“Eu não quero entrar nas discussões de âmbito eleitoral do Comitê, não me cabe, eu não tenho interesse nesse segmento. O meu segmento é a área esportiva e técnica e eu volto a falar que as minhas decisões foram sempre com o objetivo da melhor representação do Brasil. E por isso eu trabalhei.” Quem entra no lugar dele, agora, é Ney Wilson, a quem ele chama de grande amigo.

Ney Wilson é apontado por Bichara como um grande amigo, além de ter sua competência aprovada pelo ex-diretor de esportes © COB

“Ney é um profissional extremamente respeitado não só pelas suas conquistas, mas pela sua ética, pela sua postura, pela forma que ele conduziu a sua vida profissional, pela forma que ele liderou uma modalidade por tanto tempo, pelo respeito que o judô brasileiro tem no mundo inteiro. Isso é construído muito pelo trabalho dele e da equipe dele. Ney é uma pessoa capacitada para conduzir.”

As problemáticas políticas passaram ao campo do esporte e, por isso, segundo o GE, Paulo Wanderley buscou formas de enfraquecer Jorge Bichara. Uma delas foi reduzir sua força no departamento de esportes, tirando-o do controle do Laboratório Olímpico ao empregar Christian Trajano na função de gerente de educação e controle de doping. Bichara não concordou com a ideia.

Segundo o Olimpíada Todo Dia, personalidades olímpicas como Torben Grael, Renan, Bernardinho e José Roberto Guimarães foram alguns que telefonaram ao ex-diretor de esportes, além dos diversos protestos vistos em redes sociais. O COB divulgou uma nota:

“O Comitê Olímpico do Brasil comunica que Jorge Bichara deixa seu quadro de colaboradores nesta terça-feira. A entidade agradece ao profissional pelos serviços prestados ao longo de sua trajetória. De maneira interina, a área de Esportes fica sob responsabilidade do diretor-geral, Rogério Sampaio.” Conforme anunciado na quinta-feira (24), Ney Wilson ficará responsável pelo Alto Rendimento e Kenji Saito, por sua vez, responderá pelo Desenvolvimento Esportivo. Ambos trabalharam juntos na Confederação Brasileira de Judô (CBJ).

“Eu não ligo muito para cargo. Eu ligo para função, propósito e objetivo. O meu objetivo é que o Brasil consiga apresentar o seu máximo. Que a população tenha orgulho de seus atletas, que o esporte seja reconhecido dentro da sociedade como uma ferramenta de valorização do brasileiro, de ascensão social, de atletas que podem utilizar o esporte para mudar suas vidas. Então, eu, na frente de uma equipe extremamente qualificada, o que a gente buscou foi tentar ajudar as pessoas a expor o seu máximo”, argumenta Jorge Bichara.

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