Com os Jogos de Los Angeles 2028 sob seu comando, Trump impõe desafios inéditos ao COI. Restrições de vistos, embates ideológicos e tensões geopolíticas ameaçam os valores olímpicos e colocam o futuro presidente do COI diante de um cenário instável.
Por Elliot McGowan / Inside the Games
Curitiba, 10 de março de 2025
O dirigente que em breve deixará a presidência do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, comentou sobre o relacionamento entre o órgão e a administração Trump durante uma mesa redonda com a imprensa na última sexta-feira (7). Ele aconselhou seu sucessor a “ter confiança” no apoio do 47º presidente dos Estados Unidos da América aos Jogos de Los Angeles 2028.
“Meu conselho seria confiar no apoio do presidente Trump e de sua administração para os Jogos de Los Angeles”, afirmou Bach. “Ele foi um grande promotor e defensor desses Jogos durante seu primeiro mandato. Os Jogos foram alocados para Los Angeles naquela época, e Trump ama o esporte.”
Los Angeles foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2028 em 2017, ainda durante o primeiro mandato de Donald Trump. Naquele período, Bach e Trump se encontraram mais de uma vez. Agora, após 12 anos à frente do COI, o dirigente de 71 anos deixará o cargo em junho, com seu sucessor sendo eleito no próximo dia 20 de março, durante a 143ª Sessão do COI. Os sete candidatos à presidência do COI são:
■ Juan Antonio Samaranch Júnior. (vice-presidente do COI),
■ Sebastian Coe (presidente da World Athletics),
■ Kirsty Coventry (ex-atleta olímpica e ministra do esporte do Zimbábue),
■ David Lappartient (presidente da Union Cycliste Internationale – UCI),
■ Morinari Watanabe (presidente da Federação Internacional de Ginástica – FIG),
■ Johan Eliasch (chefe da Federação Internacional de Esqui – FIS).
Cada um deles iniciará um novo ciclo no COI com diferentes perspectivas sobre os desafios do esporte mundial e precisará construir sua própria relação com o governo dos Estados Unidos.
Trump e o impacto no Movimento Olímpico
Trump nunca fugiu de polêmicas e confrontos, e a proximidade dos Jogos de Los Angeles 2028, sob seu segundo mandato, promete desafios para o próximo presidente do COI.
Nas últimas semanas, Trump demonstrou tendências pró-Rússia e posições radicais sobre atletas transgêneros no esporte feminino, o que o coloca em rota de colisão com a postura do COI. Em fevereiro, ele assinou a ordem executiva “Mantendo os Homens Fora dos Esportes Femininos”, além de criticar abertamente as boxeadoras Imane Khelif e Lin Yu-ting, medalhistas de ouro envolvidas em uma controvérsia de gênero nos Jogos de Paris 2024. O COI defendeu ambas, mas Trump reagiu com ataques públicos, chegando a usá-las em um vídeo de campanha com a frase “homens podem bater em mulheres e ganhar medalhas”, o que resultou em um processo de cyberbullying movido por Khelif.
Trump também adotou um discurso próximo ao da Associação Internacional de Boxe (IBA), entidade que entrou em conflito com o COI no último ano sobre o tema. Entre os princípios fundamentais do COI está o reconhecimento do esporte como um direito humano, assegurando “o acesso sem discriminação de qualquer tipo”. Bach defendeu essa diretriz, promovendo a paridade de gênero e garantindo a participação das 206 nações nos Jogos Olímpicos. No entanto, já se prevê que Los Angeles 2028 enfrentará embates sobre “inclusão”, já que restrições de visto impostas pelo governo americano ameaçam os valores olímpicos.
Restrições de visto e impacto nos Jogos de LA28
Embora os Jogos Olímpicos de 2028 sejam financiados por meio de capital privado, sem depender de recursos federais, o governo dos EUA continua responsável por serviços essenciais, como segurança, transporte e emissão de vistos. Dessa forma, as políticas de imigração de Trump podem afetar diretamente a participação de atletas e delegações.
Trump já alertou sobre a possibilidade de negar vistos para atletas transgêneros com base nas diretrizes do governo. Além disso, atletas de algumas nacionalidades também podem ser afetados. Em março de 2025, a Federação Cubana de Basquete revelou que sua equipe masculina foi excluída das eliminatórias da FIBA AmeriCup porque os Estados Unidos negaram seus vistos, impedindo-os de jogar em Porto Rico. Esse episódio ocorreu dentro da nova política de restrição contra Cuba, implementada no segundo mandato de Trump.
O Ministério das Relações Exteriores de Cuba confirmou que os EUA suspenderam um programa que permitia a solicitação de vistos para funcionários do governo, profissionais da saúde, educação, esporte e cultura. Isso sugere que a rigidez da política migratória pode afetar várias nações nos Jogos de LA28.
Histórico de políticas restritivas
Essa não é a primeira vez que Trump impõe proibições de viagens. Em 2017, ele implementou uma medida que restringia a entrada de cidadãos de vários países de maioria muçulmana, sob a justificativa de “prevenir ataques terroristas”. Para os Jogos de Los Angeles 2028, essa política levanta preocupações sobre a participação de atletas e profissionais de delegações de diferentes partes do mundo.
Com mais de 10.000 atletas de mais de 200 países esperados para competir, além de equipes técnicas, jornalistas e torcedores, as novas barreiras impostas pelo governo dos EUA podem criar obstáculos inéditos para o evento.
O futuro do COI sob um cenário instável
Thomas Bach reconheceu que o mundo esportivo enfrenta desafios geopolíticos cada vez mais intensos. “Temos uma nova ordem mundial em formação, e essa mudança não acontecerá sem ruídos”, afirmou.
Apesar de demonstrar confiança no apoio de Trump aos Jogos de Los Angeles 2028, o presidente cessante do COI sabe que o cenário será complexo para seu sucessor. Com um presidente dos EUA abertamente em conflito com algumas diretrizes do COI, questões de inclusão, imigração e liberdade de participação esportiva prometem ser os grandes desafios da próxima administração olímpica.
Embora a 22ª Emenda da Constituição dos EUA limite o mandato presidencial a dois períodos, Trump já demonstrou que não é um político convencional e não segue regras sem questioná-las. Diante disso, o próximo presidente do COI precisará de habilidade diplomática e resiliência para conduzir os Jogos Olímpicos em um ambiente político imprevisível.