No tênis de mesa desde os 12 anos, brasileira teve a influência de outra atleta paralímpica para a sua entrada no esporte e se mostra muito confiante
Por Nélson Ayres e Lucas Pinto / Fato & Ação / CBTM
15 de agosto de 2021 / Curitiba (PR)
A Paralimpíada está presente na vida de Jennyfer Parinos desde o início de sua caminhada no tênis de mesa. Foi uma atleta da seleção que a levou para os treinos da modalidade, antes de a santista ir aos Jogos do Rio, em 2016, e conquistar, com a equipe de classes 9-10, uma medalha de bronze para o Brasil. Sua trajetória é de sucesso desde as primeiras competições, mas nem todos os passos foram simples. Representante brasileira na classe 9, ela precisou impor seu jogo na seletiva para garantir a vaga em Tóquio, sua segunda participação paralímpica. E afirma: a equipe está ainda mais bem preparada agora para buscar o pódio.
No mesmo prédio em que Jennyfer morava quando criança, na cidade paulista de Santos, residia também a atleta paralímpica Carolina Maldonado, que tinha acabado de voltar dos Jogos de Pequim, em 2008. Foi Carolina quem viu a mesa-tenista da seleção jogando ping-pong no edifício, aos 12 anos, e a levou para treinar no clube Saldanha da Gama. Assim, o tênis de mesa entrou em sua vida.
“Ela falou que eu levava jeito, que existia o esporte paralímpico. Disse que era para eu encontrar um clube para treinar e ficou tentando me convencer a conhecer o esporte e treinar no Saldanha, onde ela treinava. Mas para mim, ping-pong nem era esporte. Não conhecia, tinha 12 anos, só brincava no colégio. Mas ela insistiu bastante com os meus pais. No dia em que me levou, estavam treinando os profissionais de Santos e eu me apaixonei. Foi amor à primeira vista: fui nesse dia, no seguinte, nos outros e estou até hoje”, lembra
A partir daí, o talento de Jennyfer começou a aflorar. A atleta começava a participar de competições nacionais e já se destacava, até que passou a integrar a seleção brasileira, de olho nas Paralimpíadas do Rio, em 2016.
“Comecei a competir no Brasil, a ter resultados bons. Surgi junto com a Bruna Alexandre, me diziam que a gente tinha muita chance de fazer equipe, dupla lá fora e ser forte. Treinava com muita determinação pensando nisso, até que em 2013 fui convocada para a seleção brasileira visando o Rio 2016. Foi aí que começou minha experiência internacional, comecei a ter resultados, a amar ainda mais o esporte e levar como profissão”, conta Jennyfer Parinos.
Mas sua trajetória não foi fácil. Aos 16 anos, perdeu um dos seus grandes apoiadores no esporte, seu pai. O período coincidiu com sua convocação para a seleção, quando o nível de intensidade no esporte também passou a ser maior, o que demandou uma mudança de ares. Para ela, no entanto, os desafios tornaram suas conquistas ainda maiores.
“Tive que me mudar de Santos para Piracicaba, nunca tinha saído de casa. Foi muito difícil, vejo que abdiquei de tantas coisas, tão nova. Tenho muito orgulho disso, sinto que o trabalho foi duro, mas fui muito recompensada. Estou muito feliz e orgulhosa dessa trajetória”, diz a atleta.
Melhor sensação da vida
Já consagrada como atleta profissional de tênis de mesa, mesmo jovem, viveu em sua primeira Paralimpíada o que ela chama de a “sensação mais incrível que eu já senti em toda a minha vida”. Ao lado de Dani Rauen e Bruna Alexandre, conquistou a medalha de bronze por equipes nas classes 6-10 no Rio, em 2016.
“Posso dizer que foi a competição, o dia, a sensação mais perfeitos da minha vida, por ser em casa, uma medalha inédita no tênis de mesa paralímpico. Fico muito feliz de ter feito parte dessa história”, comemora Jennyfer, ao recordar o primeiro pódio paralímpico.
Para chegar à segunda participação, precisou provar sua qualidade na seletiva mundial. Sem a vaga garantida até junho deste ano, disputou a competição e fez bonito. Apesar de ter perdido a primeira partida, venceu com ampla margem as três seguintes, credenciando seu passaporte para Tóquio.
“Foi muito emocionante. Sabia que para ganhar minha vaga ia ter que estar muito bem tanto tecnicamente quanto mentalmente. O primeiro jogo, que eu perdi, era contra uma defensiva. É o único estilo de jogo que a gente não tem no nosso convívio de treinamento, sabia que seria um jogo difícil. Como eu estava preparada tecnicamente, lutei. Mas não consegui vencer essa primeira partida”, lembra a atleta.
“Disse ao meu técnico, o Paulo Molitor, que estava confiante para os outros jogos, e foi o que aconteceu. Ganhei todos de 3 a 0, inclusive da atual campeã mundial. Foi um orgulho para mim, muito emocionante, estou muito feliz porque essa vaga veio com um gostinho especial, tive que conquistar com a minha raça e deu tudo certo”, completa.
Depois desse feito, a confiança está em alta para o Japão, mas com cautela. Ela reconhece a dificuldade de disputar uma competição desta magnitude, mas espera voltar ao pódio como fez há cinco anos, em sua primeira participação paralímpica.
“Sabemos que vai ser um caminho duro, difícil, mas estamos mais preparadas hoje em Tóquio do que no Rio 2016, porque éramos mais novas. Sinto que a gente vai conseguir um resultado ainda melhor, tanto por equipes quanto no individual e que estamos muito bem preparadas”, finaliza a brasileira.