Decisão estratégica do presidente do COB confronta expectativas e sinaliza foco em performance, protagonismo político internacional e legado.
Por Paulo Pinto / Global Sports
Curitiba, 7 de maio de 2025
A recente entrevista concedida pelo presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Marco Antônio La Porta, ao podcast Conta e Manda — do Globo Esporte — traz à tona uma discussão sensível e, ao mesmo tempo, necessária para o futuro do esporte olímpico brasileiro: até que ponto é viável sustentar delegações numerosas sem comprometer a qualidade do investimento técnico e o desempenho esportivo?
Ao considerar a possibilidade de reduzir o número de atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028, La Porta assume uma posição ousada. A medida, naturalmente, deve gerar desconforto entre atletas e dirigentes, mas abre espaço para uma análise madura sobre prioridades e eficiência no uso dos recursos disponíveis. Em vez de privilegiar a quantidade, a proposta sinaliza um redirecionamento mais estratégico, que valorize o potencial real de conquistas.

Futsal e identidade olímpica
Outro ponto relevante da fala do presidente do COB foi a defesa enfática da inclusão do futsal no Programa Olímpico. Genuinamente brasileiro em sua origem e com raízes profundas no país, o futsal é hoje uma modalidade de ampla capilaridade e expressiva tradição internacional. Potências como Espanha, Argentina, Rússia e Portugal disputam títulos com alto nível técnico, o que reforça sua legitimidade e apelo global. Com forte representatividade nos grandes eventos e pleno potencial de ampliar o quadro de medalhas brasileiro, o futsal reúne todos os atributos para integrar o programa olímpico. O esforço articulado com a CBF, a FIFA e o COI é oportuno e necessário, especialmente para um país que busca reconquistar protagonismo no cenário esportivo mundial.
Marco La Porta também demonstrou enorme lucidez ao apontar a perda de protagonismo do Brasil nos organismos internacionais e a ausência de lideranças nacionais em comissões decisivas do Comitê Olímpico Internacional. A retomada desse espaço passa, necessariamente, por uma diplomacia esportiva mais ativa, técnica e bem articulada — algo que sua gestão parece disposta a reconstruir, após anos em que o país se fechou em sua própria estrutura e perdeu terreno nas arenas decisórias do esporte mundial.
A Agenda Olímpica comunga da visão do presidente do COB ao levantar temas que exigem reflexão profunda e posicionamento firme. Esperamos que essas diretrizes se materializem em políticas esportivas consistentes, sustentáveis e comprometidas com o verdadeiro desenvolvimento do esporte olímpico nacional.
Vemos nessa entrevista sinais de uma gestão que busca romper com automatismos, rever prioridades e reposicionar o Brasil de forma mais assertiva no cenário olímpico internacional. Cabe agora à comunidade esportiva acompanhar, contribuir e cobrar para que essas intenções se transformem em políticas concretas.