Kosei Inoue: de lenda dos tatamis à liderança do judô mundial

Kosei Inoue: de lenda dos tatamis à liderança do judô mundial

Do menino que aprendeu judô no dojô do pai ao dirigente que hoje inspira gerações, Kosei Inoue atravessou conquistas e fronteiras para reafirmar que a verdadeira vitória é transformar o judô em legado para a humanidade.

Por Nicolas Messner / FIJ
Curitiba, 2 de setembro de 2025

Poucos nomes ressoam no mundo do judô como o de Kosei Inoue. Campeão mundial, campeão olímpico e amplamente considerado um dos técnicos mais talentosos que o esporte já conheceu, suas performances permanecem gravadas na memória de fãs e praticantes. Hoje, no entanto, seu papel é muito diferente. Em Sofia, ele não estava presente não como atleta nem como treinador, mas como membro do Comitê Executivo da FIJ e diretor Esportivo da Federação Internacional de Judô.

Ele mesmo afirma que passou por todos os setores da modalidade. “Já vivi muitas vidas no judô. Fui atleta, depois treinador e agora cruzei a barreira. É um novo desafio!”

Kosei Inoue conquista o ouro olímpico em Sydney 2000 © Cortesia Bob Willingham

Essa expertise é inestimável para compreender a evolução do judô moderno. Ao assistir ao Campeonato Mundial Cadete do Grupo OTP 2025, em Sofia, ele vê muito mais do que apenas resultados e medalhas.

“Aqui em Sofia, estamos descobrindo uma nova geração de judocas. Só isso já é fascinante. Já estou ansioso para acompanhá-los nos próximos anos, para ver como se desenvolvem. Estou particularmente impressionado com os níveis de desempenho e a preparação de países como Cazaquistão, Uzbequistão e os atletas que competem sob a bandeira da FIJ.”

Eleito para o Comitê Executivo da FIJ, Inoue amplia sua missão: contribuir para o desenvolvimento global do judô e da sociedade © Emanuele Di Feliciantonio

No entanto, Inoue insiste que a competição de cadetes é apenas o começo de uma jornada muito mais longa. “Vencer aqui é obviamente importante. Todo atleta quer vencer, mas este é apenas um passo, certamente não o objetivo final. A vitória sempre tem um sabor especial, mas acredito que é igualmente, se não mais, importante estar aqui para aprender, fazer conexões com outras nações e escolas distintas, além de coletar informações preciosas para o futuro.”

Quando era cadete, Inoue não teve a mesma exposição internacional. “Claro que competi, mas apenas no Japão. Não tínhamos essas oportunidades. Mesmo como júnior, eu lutava exclusivamente em casa.”

O Japão começou a marcar presença em Sofia, mas, como explica Inoue, o contexto importa. “Não temos uma equipe completa aqui. Durante o verão, houve competições escolares importantes no Japão que exigiram que muitos dos nossos judocas ficassem em casa. Esta é apenas uma etapa de uma carreira que queremos que seja a mais longa possível.”

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De forma mais ampla, Inoue está impressionado com o que viu nos últimos três dias. “Esses jovens judocas estão se tornando cada vez mais técnicos e demonstrando verdadeira habilidade. Há também um bom espírito entre eles. Não sei se tínhamos o mesmo na minha época, mas cada geração tem seus próprios pontos fortes. Pessoalmente, eu só tinha um objetivo: me tornar campeão mundial e olímpico.”

Essa ambição surgiu cedo. Inoue começou a praticar judô aos cinco anos, ao lado do irmão, no dojô administrado pelo pai. “Meu pai era relativamente pequeno, 1,70m e 72kg, mas o que mais me impressionava era sua habilidade nos arremessos. Seu ashi-waza e uchi-mata foram modelos para mim e sempre foram uma grande inspiração.”

Em Sófia, Inoue destacou a evolução técnica dos cadetes e o potencial de países emergentes como Uzbequistão e Cazaquistão © Emanuele Di Feliciantonio

A virada veio aos 19 anos, quando venceu o Campeonato Japonês Júnior durante seu primeiro ano na universidade. “Foi quando eu realmente percebi meu potencial. No ano seguinte, me tornei campeão asiático e, aos 21, conquistei meu primeiro título mundial, em 1999.”

Agora, 25 anos depois, Kosei Inoue assumiu a liderança. Eleito para o Comitê Executivo da FIJ em junho, em Budapeste, ele assume responsabilidades que vão muito além dos tatamis.

“Estou muito feliz por integrar a equipe diretiva da FIJ. É um trabalho árduo, mas ao mesmo tempo estimulante, que exige responsabilidade e visão estratégica. Meu objetivo é contribuir para o desenvolvimento do judô em escala mundial, não apenas no Japão. Mais do que isso, meu sonho é que os valores do judô extrapolem os tatamis e sirvam como alicerce para o desenvolvimento da própria sociedade.”

 

Esse desejo de contribuir para a sociedade está profundamente enraizado na filosofia do próprio judô e, nesse espírito, Inoue também lidera a ONG Judos, um projeto dedicado a disseminar os valores do judô para além do esporte, alcançando a educação e o desenvolvimento social.

Trajetória e conquistas

Nascido em 15 de maio de 1978, em Miyakonojō, na província de Miyazaki, Kosei Inoue construiu uma das carreiras mais vitoriosas e respeitadas da história do judô. Formado pela Universidade Tokai, onde mais tarde também atuou como professor e pesquisador na área de Educação Física, Inoue consolidou-se como referência técnica e institucional. Nos tatamis, brilhou ao conquistar a medalha de ouro olímpica nos Jogos de Sydney, em 2000, na categoria até 100 kg, além de três títulos mundiais consecutivos — Birmingham 1999, Munique 2001 e Osaka 2003.

Essas conquistas não apenas o colocaram entre os maiores judocas de todos os tempos, como também pavimentaram o caminho para sua atuação atual como dirigente e estrategista do judô mundial.

https://www.originaltatamis.com.br/

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