Das sombras à luz: como a gestão de Alaor Azevedo na CBTM elevou o tênis de mesa à alta performance

Das sombras à luz: como a gestão de Alaor Azevedo na CBTM elevou o tênis de mesa à alta performance

O dirigente está à frente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa desde 1986 e contribuiu para aumentar a popularidade do esporte e o rendimento dos atletas brasileiros

Fonte Olalekan Okusan / ITTF
14 de agosto de 2021 / Curitiba (PR)
Hugo Calderano está estabelecendo novo padrão no tênis de mesa brasileiro © ITTF

De acordo com o artigo publicado no portal da Internacional Table Tennis Federation (ITTF) nesta quinta-feira (12), Alaor Azevedo é o presidente mais antigo das federações nacionais filiadas à entidade. Ele assumiu a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) em 20 de janeiro de 1986, permaneceu até 1992 e retornou em 1995 para mais seis mandatos, incluindo o atual, que começou neste ano e termina em 2025. Foi sob sua liderança que o Brasil saiu das sombras da modalidade para tornar-se altamente competitivo no cenário mundial.

Com orçamento anual de US$ 1,5 milhão, o ex-jogador de tênis de mesa consolidou uma organização saudável do ponto de vista da gestão, exercendo a boa governança para aumentar a popularidade do esporte e a qualidade dos atletas nacionais. Não é à toa que a partir dos Jogos Olímpicos do Rio 2016 o interesse pela modalidade teve grande impulso no Brasil.

“Quando fui eleito presidente da CBTM, no dia 20 de janeiro de 1986, numa festa para 400 convidados, disse a eles que queria que o Brasil fosse campeão mundial, mas eles não me levaram a sério, só minha esposa acreditou. Não fui desencorajado pela descrença deles enquanto trabalhava para realizar meu sonho.”

Hugo Calderano está estabelecendo novo padrão no tênis de mesa brasileiro © ITTF

O sucesso após Rio 2016

Após a os Jogos do Rio 2016, o tênis de mesa tornou-se um dos esportes de maior audiência no País. A cereja do bolo para o Brasil naquela edição foi a participação de Hugo Calderano, que chegou à quarta rodada. Apesar de não ter disputado medalha, seu desempenho muito positivo atraiu seguidores para a modalidade.

Nos Jogos Paralímpicos de 2016, o tênis de mesa brasileiro conquistou quatro medalhas de bronze: Israel Stroh na classe 7 individual; Iranildo Espíndola e Guilherme Márcio da Costa na classe 6; Bruna Alexandre na categoria 10 individual e Danielle Rauen na categoria 6-10.

“Fomos questionados sobre nossa decisão de fazer o esporte crescer no Brasil, mas temos associações regionais e federações estaduais com as quais a CBTM trabalhou; isso realmente ajudou a desenvolver a modalidade. Em nosso último torneio nacional, em dezembro de 2020, tivemos mais de 1.500 competidores. Isso para nós é um novo começo, pois esperamos que mais de 2.500 atletas figurem em nosso próximo campeonato nacional, ainda neste ano”, previu o dirigente.

Bruna Alexandre é bronze no tênis de mesa nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro © Wikimedia Commons

Crescimento e estruturação da equipe

A estrutura profissional da CBTM resulta de um plano elaborado ao longo de décadas com o grande propósito de garantir, cada vez mais, o fomento do esporte. “O segredo da minha longevidade como presidente é o excelente relacionamento com federações estaduais e associações regionais. Quando assumi o cargo, tínhamos dois colaboradores voluntários, mas agora trabalhamos profissionalmente com 25 funcionários em tempo integral.”

Danielle Rauen, medalhista de bronze de tênis de mesa nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro © Divulgação

Plano estratégico

Segundo a matéria da ITTF, a administração da CBTM foi simplificada nos últimos anos, o que garantiu que ela chegasse ao patamar alcançado nos dias de hoje.

“Desde 2018, temos um novo CEO e um plano estratégico muito mais abrangente. Antes disso, o tênis de mesa no Brasil era considerado diversão e prazer, mas o transformamos num esporte olímpico profissional. As pessoas também deveriam ver a prática como profissional.”

Alaor lembra que, no Brasil, 2% do orçamento nacional destinam-se ao esporte, cabendo ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) repartir os recursos entre todas as modalidades olímpicas. “Todo esporte, incluindo tênis de mesa, sabe que receberá uma certa quantia todos os anos. Então, isso ajuda cada federação a trabalhar mais para conseguir fundos adicionais para seus programas e atividades. O tênis de mesa está entre os dez principais esportes em termos de mídia social, enquanto em governança somos o número 1 no Brasil.”

Além do dinheiro do COB, as confederações recebem recursos de diferentes fontes. As empresas privadas, por exemplo, assumem patrocínios anuais – mais necessários do que nunca. “A pandemia da covid-19 realmente nos afetou. Só conseguimos organizar um torneio em 2020, contra os 18 e 20 que costumávamos organizar anualmente. Todo o dinheiro que usamos para realizar o torneio vai para as federações estaduais, e são os Estados mais ricos, onde a modalidade está mais estruturada, que organizam mais competições.”

Alaor Azevedo e Geraldo Campestrini, CO da CBTM na Assembleia Geral da ITTF © Divulgação

Olhando para o futuro

Por mais que a CBTM esteja recebendo diversos louros graças às excelentes performances nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, Alaor Azevedo reitera que não haverá descanso e que a CBTM pretende formar mais jogadores como Hugo Calderano. É por isso que a entidade criou o Diamante do Futuro, um programa que identifica e apoia jogadores talentosos na busca pela melhora de suas habilidades no esporte.

“Em 2009, Calderano era o 1.129º no ranking mundial. Em poucos anos ele subiu para o sexto lugar. Estamos investindo no projeto Diamante do Futuro, que selecionará jogadores talentosos para participar de competições e campos de treinamento sob o olhar atento de treinadores de primeira linha. Temos certeza de que Calderano ainda pode jogar por mais de dez anos, mas estamos prontos para identificar novos atletas como ele para o Brasil e, assim, chegar cada vez mais perto do meu sonho de sermos campeões mundiais.”

Azevedo não tem dúvidas de que sediar os Jogos Olímpicos de 2016 ajudou a mudar o cenário do tênis de mesa, principalmente graças ao novo centro de treinamento ultramoderno montado em São Paulo. Com 1.400 metros quadrados, é dos maiores do mundo. Além disso, equipamentos foram distribuídos para regiões e Estados após os jogos.

“Temos um centro bem equipado, em condições de classe mundial e com equipamento suficiente. Devo admitir que as Olimpíadas do Rio mudaram muito nossa história no tênis de mesa.”

Cátia Oliveira, medalhista de prata pela classe 1-2 no Paracampeonato Mundial de 2018 © Getty Images / Lucas Uebel

Progresso

O tênis de mesa no Brasil teve um salto de crescimento tão grande nos últimos anos que os atletas brasileiros não apenas têm ambições de conquistar títulos continentais, mas também de mostrar seu talento em nível mundial.

Atualmente, há diversos representantes brasileiros nas primeiras posições do ranking mundial olímpico e paralímpico, entre eles uma campeã mundial de cadetes (Bruna Takahashi, em 2015); Hugo Calderano, entre os seis primeiros; e uma vice-campeã mundial pela classe 1-2, Cátia Oliveira (no Paracampeonato Mundial da ITTF de 2018).

O Brasil terminou num quinto lugar sem precedentes no Campeonato Mundial de Equipes em 2018, sendo derrotado apenas pela China e Alemanha, duas potências mundiais da modalidade. O tênis de mesa paralímpico passou a ser administrado pela CBTM em 2007.

Um ano antes, o Brasil havia vencido apenas quatro partidas no Campeonato Mundial da Suíça. Dez anos depois, o patamar era completamente diferente, com quatro medalhas conquistadas nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Em 2017, na assembleia geral da CBTM, pela primeira vez, foi aprovada a plena participação de atletas, árbitros, clubes e treinadores na tomada de decisões, ao lado dos presidentes de federações estaduais.

Bruna Alexandre é bronze nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro © Wikimedia Commons Francisco Medeiros / ME

Boa gestão

A CBTM foi reconhecida em quatro ocasiões pelo Sou do Esporte por suas práticas de governança, ocupando a quinta posição entre todas as confederações esportivas em 2015, a terceira em 2016 e 2017, antes de terminar em segundo em 2018. Nos últimos dois anos, a CBTM despontou como vencedora do prêmio por sua prática de governança.

O Sou do Esporte é uma entidade sem fins lucrativos no Brasil que atua como uma rede de relacionamento entre atletas, entidades esportivas, poder público e o setor privado. O objetivo é promover o esporte e, ao mesmo tempo, estimular as boas práticas e a governança.

“Este prêmio de boa governança nos dá mais credibilidade e nos credencia a receber maior apoio das iniciativas pública e privada. Nosso site e nossas redes sociais são atualizados regularmente com informações sobre todas as nossas atividades. Publicamos nossas demonstrações financeiras a cada três meses. Contratamos especialistas em governança que nos têm auxiliado. A transparência é uma das prioridades de nossa gestão e a promovemos constantemente.”

Israel Stroh celebra a vitória, que levou o tênis de mesa nacional à primeira final individual da história © ITTF

O dirigente informa que os estatutos da CBTM foram atualizados para atender aos padrões internacionais e que os interessados podem ter acesso à maioria dos documentos. “Somos absolutamente transparentes em nossas negociações. Isso nos ajudou a diminuir a tensão e abrir as portas para que as pessoas questionem ou façam perguntas sobre a gestão. Estamos abertos para aprender com outros esportes e isso nos deu maior credibilidade para negociar com os patrocinadores.”

Quando surgiu a ideia de boa governança, Alaor diz que houve alguns problemas, por envolver um conceito que veio para inovar a gestão esportiva. “No início eu estava relutante em aceitar determinadas mudanças. Hoje, eu quero superar os dirigentes das demais confederações. O Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) é o melhor quando se trata dessa prática. A boa governança nos ajudou a alcançar resultados em termos de patrocínios. Esperamos que 2022 seja um bom ano para nós.”

Alaor afirma que, de acordo com as práticas de boa governança, os dirigentes devem estar prontos para dividir o poder e até mesmo o comando, para permitir que a entidade se desenvolva. “Ele deve estar pronto para ceder parte do controle e trabalhar com especialistas nos setores estratégicos. Gerir de portas abertas com outras entidades. Conhecimento não tem preço e é o mais caro, mas é preciso ter pessoas que transfiram conhecimento. Portanto, o dirigente precisa ter a humildade necessária para aprender com os outros.”

Guilherme Márcio da Costa em ação em Toronto © Daniel Zappe / CBTM

Realizar grandes eventos

Mais investimento em treinamento, torneios importantes e treinadores ajudariam a popularizar ainda mais a modalidade. Alaor entende que o Brasil deve candidatar-se para sediar campeonatos mundiais ou torneios importantes no futuro, mas espera deixar o cargo quando seu atual mandato terminar em 2025, dando a outros dirigentes a oportunidade de comandar a CBTM.

Ele está particularmente animado com o lançamento da Universidade de Tênis de Mesa, que pode ajudar o Brasil e outras nações da América Latina a aprender mais sobre o esporte, especialmente quando se trata de boa governança.

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