Conselho de Ética do COB mais uma vez arquiva representação contra presidente Paulo Wanderley

Conselho de Ética do COB mais uma vez arquiva representação contra presidente Paulo Wanderley

Assim como aconteceu em 2020, quando foi acusado de se beneficiar com contratações irregulares no setor de TI, agora o dirigente foi inocentado por seus comandados.

Por Paulo Pinto / Global Sports
24 de outubro de 2023 / São Paulo (SP)

Repetindo o script que manchou os primeiros anos da gestão de Paulo Wanderley Teixeira à frente do Comitê Olímpico do Brasil, em agosto o dirigente foi novamente denunciado ao Conselho de Ética do COB que, como já era esperado, passou pano em mais uma arbitrariedade cometida pelo dirigente que, ao invés de chamar seus opositores para o diálogo, prefere atacá-los e cancelá-los.

Com caráter forjado na arrogância e na soberba, e acostumado a comandar o judô por mais de 20 anos com mão de ferro, enfrentando na época, adversários despreparados ou com capacidade cognitiva extremamente limitada, mais uma vez Wanderley zomba de seus opositores, ignorando a denúncia feita por Eduardo Musa, presidente da Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk).

Wanderley foi denunciado ao CECOB por Musa, após ter seu microfone desligado durante uma fala em um seminário do COB, em agosto. Na ocasião, Musa usou o seu tempo para relatar sobre a suspensão de sete meses que sofreou da World Skate, federação internacional da modalidade, e teve seu acesso ao sistema COB interrompido durante esse período. Ele recorreu ao Tribunal Arbitral do Esporte, venceu e retornou ao cargo. Paulo Wanderley disse, contrariado, que ali não era o local para aquele tipo de colocação e arbitrariamente determinou que o microfone de Musa fosse desligado.

Paulo Wanderley ao lado de Marius Vizer, presidente da Federação Internacional de Judô, quando acumulava os cargos de presidente da Confederação Brasileira de Judô e da Confederação Pan-Americana de Judô e vice-presidente da FIJ © Arquivo

Fosse o Conselho de Ética do COB um órgão verdadeiramente independente, o dirigente já não teria saído ileso das acusações anteriores, constantes do relatório Kroll, que detalhou iregularidades na contratação milionária da mesma empresa de TI que por mais de uma década prestou serviços à Confederação Brasileira de Judô (CBJ) na gestão Paulo Wanderley Teixeira.

A empresa envolvida no maior escândalo da gestão atual do COB é capixaba, assim como grande parte do staff da CBJ, cujos principais dirigentes foram alunos de Paulo Wanderley em Vitória (ES), antes que ele se projetasse como presidente da Federação de Judô do Espírito Santo e, posteriormente, como técnico da seleção brasileira, por ser apadrinhado pelo ex-presidente Joaquim Mamede de Carvalho.

Denúncia-crime

Contudo, precisamos destacar que o processo envolvendo a quadrilha de Vitória (ES) – cujos personagens centrais eram Leonardo Barbosa Rosário, gerente de TI do COB, e Everson Montibeller Pereira, também funcionário do Comitê Olímpico, ambos sócios da RDWEB, contratada para realizar o serviço na área – foi uma denúncia-crime sobre a contratação ilegal que certamente favoreceu alguém do comitê.

Mas a segunda denúncia, feita por Eduardo Musa, fundamentada em questões éticas, com cristalinos rudimentos políticos, embasa nossa avaliação justamente por termos acompanhado a trajetória de Paulo Wanderley desde o primeiro dia de gestão na Confederação Brasileira de Judô. Conhecemos o modelo de compliance de um dirigente que em 2009, para chegar ao poder em nível mundial, destruiu a União Pan-Americana de Judô (UPJ), entidade com meio século de história que na época administrava o judô no continente americano.

Com esta manobra Wanderley assumiu o posto de presidente da Confederação Pan-Americana de Judô (CPJ), criada por ele, tornando-se automaticamente vice-presidente da poderosa Federação Internacional de Judô (IJF na sigla em inglês). Mas, alguns anos depois, o presidente Marius Vizer descobriu quem era o dirigente brasileiro e o destituiu do posto, assim como ele havia feito com o dirigente da UPJ.

Apenas como mais um exemplo claro da falta de ética do presidente do COB, salientamos que por diversas vezes a Comissão de Atletas do COB recebeu denúncias contra o sucessor de Wanderley na CBJ, por ilicitudes e perseguições políticas contra dirigentes estaduais que não concordam com suas práticas, mas jamais os queixosos obtiveram resposta do Conselho de Ética do COB ou do CACOB.

Indicado por Paulo Wanderley, Sílvio Acácio Borges colapsou toda a estrutura criada pelo antigo setor de marketing da CBJ, entidade que detinha o maior faturamento do Brasil no segmento esportivo. A CBJ mantinha contratos milionários com empresas como Bradesco, Scania, Cielo e Petrobras, entre outras, mas a má gestão de Sílvio Acácio fez com que em menos de quatro anos nenhuma marca mais apoiasse o judô do Brasil. Mesmo assim o presidente do COB sempre prestigia seu sucessor e jamais questiona as ilegalidades administratvias cometidas por seu colega judoca.

Ao lado de Sívio Acácio, na abertura do Campeonato Brasileiro Sub 18 de 2023, Paulo Wanderley tem presença constante nos eventos da CBJ © Anderson Neves

Assim como aconteceu no passado e acontece atualmente na CBJ, não vemos hoje no COB exemplos de ética, transparência e responsabilidade nas relações, vindo de cima para baixo.

Com exceção da empresa resposável pelo marketing da CBJ, Paulo Wanderley levou para a gestão do COB todos os grandes atores que o acompanhavam no judô. Absolutamente todos os altos salários e cargos estratégicos do Comitê Olímpico do Brasil são ocupados por senseis (professores) contaminados pela soberba descomunal que há quase três décadas assola a gestão de uma modalidade que, devido à sua origem, deveria ser exemplo de dignidade, fraternidade, coragem, polidez e retidão. Mas, assim como querer explicar o Bushidô a leigos, é uma enorme perda de tempo falar sobre honra, retidão, coragem ou lealdade para estas pessoas que hoje comandam as duas entidades.

Em 2020, o Conselho de Ética vergonhosamentente isentou Paulo Wanderley, arquivando o processo sem análise do mérito, alegando que o autor da representação, Celso Wolf Júnior, ex-presidente da Confederação Brasileira de Badminton, não possuía legitimidade para apresentar denúncias. Importante reafirmar que a representação de Wolf estava fundamentada no relatório da auditoria independente Kroll, que apontou uma série de irregularidades nos contratos da empresa da área de tecnologia.

Agora, mais uma vez, o Conselho de Ética do COB envergonhou todos os esportistas brasileiros que têm compromisso com o fair play, com o jogo limpo, com manter o espírito esportivo e ter comportamento ético nas questões relacionadas a qualquer área do esporte e, em especial, na gestão.banner fiore

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