Comitê Olímpico Internacional: sete candidatos na disputa, a uma semana da decisão

Comitê Olímpico Internacional: sete candidatos na disputa, a uma semana da decisão

A uma semana da eleição, os sete candidatos ao COI expõem suas visões: discursos politicamente corretos, evasivos em temas sensíveis e com diferenças que podem redefinir o futuro do Movimento Olímpico.

Por Raúl Daffunchio Picazo / Inside the Games
Curitiba, 14 de março de 2025

Após anunciar, durante os Jogos de Paris 2024, que não buscaria a reeleição após 12 anos no comando do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach abriu caminho para uma disputa acirrada pela presidência da instituição esportiva mais prestigiada do mundo. Bach, campeão olímpico de esgrima nos Jogos de Montreal 1976, foi eleito em 2013 no Congresso de Buenos Aires.

Desde aquele anúncio, a corrida pela sucessão passou por uma série de momentos-chave, culminando na eleição do próximo presidente do COI, marcada para 20 de março, na Grécia. O resultado definirá os rumos do Movimento Olímpico nos próximos anos.

A International Sports Press Association (AIPS) organizou entrevistas exclusivas com os sete candidatos ao longo das últimas semanas, com participação de jornalistas da Inside The Games. Essas conversas revelaram tanto semelhanças quanto diferenças significativas entre os concorrentes.

Discurso politicamente correto e falta de aprofundamento

Nas conferências virtuais, jornalistas de todos os continentes tiveram a oportunidade de questionar diretamente os candidatos. No entanto, um padrão se repetiu: os concorrentes priorizaram a apresentação de seus manifestos e ideias gerais, evitando se aprofundar em propostas concretas.

Mesmo diante de perguntas incisivas sobre como pretendem implementar suas visões, a maioria das respostas foi vaga ou evasiva, contornando temas centrais como inclusão, sustentabilidade, o impacto da guerra no esporte e a adaptação do COI aos desafios do século XXI.

Thomas Bach foi eleito em 2013 © Getty Images

Ainda assim, alguns candidatos trouxeram conceitos inovadores e distintas abordagens para o futuro da entidade. No geral, todos se mostraram favoráveis a um COI mais democrático e transparente, acessível à mídia (inclusive àquela sem vínculos corporativos históricos) e comprometido com a continuidade das diretrizes estabelecidas por Bach, como a sustentabilidade.

As principais diferenças entre os concorrentes se manifestaram nas ênfases de cada um: descentralização dos Jogos Olímpicos, tecnologia e inovação, igualdade de gênero, apoio a países em desenvolvimento e fortalecimento da governança e da integridade esportiva.

Inclusão, sustentabilidade e neutralidade política

O respeito aos direitos dos atletas transgêneros foi um dos temas comuns entre os candidatos. Embora com nuances em suas respostas, todos concordaram que a participação no esporte precisa ser inclusiva, mas equilibrada com a garantia de justiça para as mulheres. A necessidade de criar diretrizes que conciliem esses dois aspectos foi um ponto amplamente defendido.

A sustentabilidade também apareceu como um tema-chave, mas sob diferentes perspectivas. Johan Eliasch enfatizou o impacto das mudanças climáticas nos esportes de inverno, Morinari Watanabe propôs descentralizar os Jogos Olímpicos para torná-los mais acessíveis, enquanto Juan Antonio Samaranch Jr. defendeu a continuidade das políticas ambientais de Bach, porém com uma abordagem mais abrangente.

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A maioria dos candidatos — incluindo Eliasch, Samaranch Jr., Príncipe Feisal Al Hussein e Sebastian Coe — reforçou a importância da neutralidade política no COI. Para eles, o esporte deve ser um espaço de união, livre de interferências políticas, e os Jogos Olímpicos devem se manter como um símbolo de integração global.

Diferentes visões para o futuro do COI

Apesar do compromisso comum com o avanço do Olimpismo, as propostas dos candidatos refletem abordagens distintas para os desafios enfrentados pelo Movimento Olímpico. A seguir, destacamos algumas das principais ideias apresentadas pelos cada um deles.

Morinari Watanabe: Jogos Olímpicos descentralizados

Watanabe apresentou uma das propostas mais ousadas: dividir a realização dos Jogos Olímpicos entre cinco cidades, em cinco continentes, com um total de 50 modalidades. Segundo ele, essa mudança permitiria que mais países pudessem sediar o evento, ampliando a representatividade global.

Morinari Watanabe © Getty Images

Embora inovadora, a ideia esbarra em desafios logísticos e financeiros. Watanabe reconhece os obstáculos, mas argumenta que o Olimpismo deve refletir o mundo inteiro, e não apenas as grandes potências esportivas. A proposta gerou tanto entusiasmo quanto ceticismo, com críticos apontando os altos custos e a complexidade da implementação.

Johan Eliasch: sustentabilidade e tecnologia

Eliasch focou suas propostas na sustentabilidade, com ênfase no impacto das mudanças climáticas nos esportes de inverno. Como presidente da Federação Internacional de Esqui (FIS), ele defende a necessidade de adaptar os locais dos Jogos Olímpicos de Inverno para garantir viabilidade ambiental a longo prazo.

Johan Eliasch © Getty Images

Além disso, destacou a importância de modernizar o COI por meio da tecnologia, incluindo o uso de inteligência artificial para otimizar a organização dos Jogos e aprimorar a experiência do público. Sua proposta de implementar um sistema de rotação fixa para os Jogos de Inverno visa reduzir custos e garantir maior previsibilidade para as cidades-sede.

Príncipe Feisal Al Hussein: governança participativa e inclusão global

O Príncipe Feisal Al Hussein, da Jordânia, apresentou uma visão voltada para o fortalecimento da governança participativa no COI. Em contraste com a gestão centralizadora de Thomas Bach, Feisal defende um modelo mais democrático, onde os membros do COI tenham maior envolvimento nas decisões estratégicas. Seu discurso enfatiza a necessidade de transparência e colaboração, fatores que, segundo ele, são fundamentais para reconstruir a confiança no Movimento Olímpico, especialmente entre as novas gerações, que muitas vezes sentem que as instituições globais não representam seus interesses.

Príncipe Feisal Al © Getty Images Hussein

Feisal também destacou a importância de um processo de seleção mais inclusivo para as cidades-sede dos Jogos Olímpicos, argumentando que a África e a América Latina devem ter oportunidades reais de sediar o evento. Essa proposta se diferencia de outros candidatos, como Juan Antonio Samaranch Jr., que foca mais no desenvolvimento interno do COI sem propor reformas estruturais profundas.

Kirsty Coventry: conservadorismo e continuidade

Única mulher na disputa, Kirsty Coventry adotou uma postura mais conservadora em relação às mudanças dentro do COI. Em temas como a inclusão de atletas transgêneros, sua posição foi mais diplomática: “Precisamos trabalhar com as federações, equipes médicas e especialistas para encontrar uma solução que proteja a categoria feminina sem excluir ninguém”, afirmou. No entanto, não sugeriu nenhuma medida concreta para essa questão.

Kirsty Coventry © Getty Images

Em entrevista ao Inside The Games, Coventry reforçou que as federações internacionais já vêm adotando abordagens próprias sobre o tema e que o COI não deveria reescrever regras estabelecidas, mas sim buscar um consenso entre as entidades esportivas. Essa visão é menos polarizadora do que a de candidatos como Johan Eliasch, que adota uma linha mais rígida contra a inclusão total de atletas trans.

Por outro lado, Coventry demonstrou preocupação com a sub-representação feminina em cargos de liderança dentro do COI e do esporte em geral, defendendo ações mais efetivas para aumentar a participação das mulheres em funções de decisão.

Juan Antonio Samaranch: continuidade com evolução

Atual vice-presidente do COI, Juan Antonio Samaranch Jr. propõe uma gestão que combine continuidade com evolução. Ele elogiou a liderança de Bach, destacando sua habilidade em superar crises globais, como a pandemia, e sua atuação na promoção da igualdade de gênero no esporte.

Juan Antonio © Getty Images Samaranch Jr.

Samaranch defende que o COI deve evoluir rapidamente para lidar com desafios contemporâneos, como a digitalização e a sustentabilidade. Em relação à participação de atletas transgêneros, sua abordagem é científica e pragmática: acredita que as decisões devem ser baseadas em evidências e estudos, evitando posicionamentos ideológicos. Essa postura o aproxima de outros candidatos que valorizam uma abordagem técnica na tomada de decisões esportivas.

David Lappartient: apoio ao desenvolvimento esportivo global

David Lappartient, presidente da União Ciclística Internacional (UCI), direcionou sua campanha para o apoio a países em desenvolvimento. Sua proposta é a criação de centros regionais de treinamento na África, América Latina e Ásia, para que atletas dessas regiões tenham acesso às mesmas condições de preparação que os de países mais ricos.

David Lappartient © Getty Images

Além disso, defendeu a ampliação do Programa de Solidariedade Olímpica, propondo dobrar seu orçamento para garantir mais investimentos em infraestrutura esportiva e formação de treinadores em países menos desenvolvidos. Esse compromisso com a equidade no acesso ao esporte foi um dos principais diferenciais de sua candidatura.

Lorde Sebastian Coe: Integridade e bem-estar do atleta

Sebastian Coe, presidente da World Athletics, concentrou sua campanha na integridade e no bem-estar dos atletas. Entre suas propostas, destacou a criação de um fundo financeiro para apoiar os atletas não apenas durante suas carreiras, mas também na transição para a vida pós-esportiva.

Lorde Sebastian Coe © Getty Images

Coe também foi um dos poucos candidatos a apoiar abertamente a introdução de premiações em dinheiro para atletas olímpicos, uma proposta controversa dentro do COI. Enquanto alguns concorrentes acreditam que isso poderia gerar desigualdades entre atletas de países ricos e pobres, Coe argumenta que a remuneração ajudaria a tornar o esporte uma carreira mais viável para muitos atletas.

Além disso, ele defendeu a democratização do acesso à tecnologia no esporte, propondo que federações menores tenham os mesmos recursos tecnológicos das maiores, garantindo uma competição mais justa e equilibrada.

A eleição e os rumos do Olimpismo

A poucos dias da eleição, fica evidente que os candidatos apresentam visões bastante distintas para o futuro do COI. Enquanto Morinari Watanabe propõe uma mudança radical no modelo dos Jogos Olímpicos, com sede descentralizada, Samaranch Jr. e Coe defendem uma evolução mais gradual. Já Lappartient aposta no desenvolvimento da base esportiva global, enquanto Feisal Al Hussein foca na reforma da governança do COI.

No entanto, há pontos de consenso: todos concordam sobre a importância da inclusão feminina no esporte, da luta contra o doping e da necessidade de tornar os Jogos mais sustentáveis e acessíveis. A escolha do próximo presidente do COI será crucial para definir como esses desafios serão enfrentados nos próximos anos.

A opinião do público: pesquisa revela favorito

O portal Inside The Games realizou uma pesquisa em suas redes sociais para medir a preferência dos leitores sobre os candidatos à presidência do COI. Com um total de 347 votos, os resultados foram os seguintes:

Sebastian Coe – 47%
Juan Antonio Samaranch Jr. – 15,5%
Kirsty Coventry – 15,2%
Príncipe Feisal Al Hussein – 7,8%
Morinari Watanabe – 7%
Johan Eliasch – 4%
David Lappartient – 3,5%

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