Time paralímpico brasileiro encerra a campanha com 72 medalhas e na sétima colocação no quadro geral de medalhas
Fonte CPB
7 de setembro de 2021 / Curitiba (PR)
As disputas dos Jogos Paralímpicos de Tóquio se encerraram na madrugada deste domingo (5), e o Brasil se despediu com 72 medalhas, sendo 22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze que asseguraram a sétima colocação no quadro de medalhas, cumprindo a meta do top 10 estabelecida no planejamento estratégico do CPB de 2017. Trata-se da melhor participação na história dos Jogos Paralímpicos.
“Além da maior campanha de todos os tempos, o Comitê Paralímpico Brasileiro celebra o fato de atingirmos todas as metas, como a de participação de mulheres, a participação de atletas jovens, a participação de atletas de classes baixas. Aprendemos muitas lições e vamos colocá-las em prática nos três anos que restam até a próxima edição de Jogos Paralímpicos, em Paris 2024”, comentou Mizael Conrado, bicampeão paralímpico de futebol de 5, em Atenas 2004 e Pequim 2008, e presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro.
A delegação verde e amarela foi composta por 259 atletas (incluindo atletas-guia, calheiros, goleiros e timoneiros), além de comissão técnica, médica e administrativa, totalizando 435 pessoas. Dos atletas com deficiência, 68 eram das chamadas “classes baixas” (com deficiência severa). Foram 42 homens e 26 mulheres. Trinta e nove participantes tinham menos de 23 anos, cerca de 17% do total da equipe nacional paralímpica.
Em nenhuma outra edição a missão brasileira havia conquistado tantas medalhas de ouro. As 22 medalhas douradas obtidas na capital japonesa superaram as 21 de Londres 2012. No número total de pódios, o Brasil igualou a marca alcançada no Rio 2016. Foram 72 medalhas no Japão, tal qual nos Jogos Paralímpicos disputados em solo brasileiro, há cinco anos.
Tais recordes foram puxados pela natação, que obteve o seu melhor desempenho em toda a história dos Jogos, com 23 medalhas (oito de ouro, cinco de prata e dez de bronze). O atletismo foi a modalidade que mais garantiu medalhas ao Brasil em Tóquio: 28 (oito de ouro, nove de prata e 11 de bronze) e também na soma de todas as participações brasileiras nas edições anteriores do megaevento (170 no total).
O último brasileiro a pisar no pódio em solo japonês foi o gaúcho Alex Douglas da Silva, na classe T46 (deficiência em membros superiores). No começo da noite de sábado (4), ele que finalizou a maratona no segundo lugar com o tempo de 2h27min, e recorde sul-americano, conquistando a medalha de prata.
O Brasil também conquistou resultados expressivos na canoagem, esporte que está apenas em sua segunda participação no programa dos Jogos Paralímpicos – a estreia foi no Rio 2016. Fernando Rufino obteve a medalha de ouro nos 200m da classe VL2. Luís Carlos Cardoso, nos 200m (KL1) e Giovane de Paula, 200m, (VL3) ficaram com a prata. As três medalhas colocaram o país na terceira colocação da modalidade em Tóquio.
“Este ouro eu dedico ao ano difícil de pandemia que as pessoas tiveram. Eu dedico a todos que perderam pessoas queridas, eu perdi gente que amava. Este ouro é uma forma de alegrar o povo. O brasileiro é um povo lutador e vibrou comigo”, disse Rufino, após sua conquista, no sábado (4).
No halterofilismo, o Brasil subiu ao lugar mais alto do pódio pela primeira vez na história. A responsável pelo feito foi Mariana D’Andrea, que levantou 137 kg na disputa entre atletas da categoria até 73kg.
Outro ouro inédito para a missão brasileira foi conquistado pela judoca Alana Maldonado (categoria até 70kg), primeira mulher brasileira a ser campeã no judô na história dos Jogos Paralímpicos.
Os Jogos de Tóquio também foram marcados pela primeira medalha de ouro para o goalball brasileiro. A seleção masculina, bronze no Rio, venceu a Lituânia – até então atual campeã paralímpica – em duas oportunidades, inclusive com uma goleada por 11 a 2 na estreia. Na final, contra a China, os brasileiros conquistaram a medalha dourada com uma vitória por 7 a 2.
O grande nome brasileiro no Centro Aquático de Tóquio foi a pernambucana Carol Santiago, da classe S12 (para atletas com baixa visão), dona de cinco medalhas: quatro individuais (três de ouro e uma de bronze) e uma prata no revezamento 4x100m até 49 pontos (soma do número da classe dos integrantes).
Ouro nos 50m e 100m livre, assim como nos 100m peito, a pernambucana bateu dois recordes paralímpicos em Tóquio: nos 50m livre (26s82) e 100m peito (1min14s89). No primeiro estilo, inclusive, ela conseguiu o feito em duas oportunidades, primeiro nas eliminatórias e depois quebrou a sua própria marca na final.
Carol quebrou um jejum de 17 anos sem que Brasil pudesse celebrar uma campeã paralímpica na natação. Até então, Fabiana Sugimori, carregava a honraria, conquistada em Sydney 2000 e Atenas 2004, ambas nos 50m livre da classe S11 (para cegos).
A paulista Mariana D’Andrea, de 23 anos, conquistou a primeira medalha de ouro brasileira no halterofilismo na história dos Jogos Paralímpicos. A atleta, da categoria até 73kg, levantou 137kg e superou a chinesa Lili Xu, que ficou com a prata (134kg). O bronze foi para a francesa Souhad Ghazouani (132kg).
“Esperava muito por este momento. Não tem gratidão maior do que ganhar esta medalha após cinco anos de treinamento. Agradeço a todos pela torcida e pela oração. Quero deixar registrado aqui, que se você tem sonho, corra atrás dos seus objetivos e os conquiste”, disse Mariana. Além do ouro da atleta, o Brasil tem outra medalha no halterofilismo paralímpico: a prata de Evânio Rodrigues da Silva nos Jogos Paralímpicos Rio 2016.
A judoca Alana Maldonado, de 26 anos, foi a primeira mulher brasileira da modalidade a subir no lugar mais alto do pódio em uma edição de Jogos Paralímpicos. Na decisão, com um wazari, a paulista natural de Tupã derrotou a georgiana Ina Kaldan e conquistou o primeiro e único ouro para o judô brasileiro em Tóquio. Vale ressaltar que Alana também já havia sido a primeira brasileira campeã mundial de judô, em 2018.
“Agradeço a minha família e à comissão técnica, que estiveram sempre presentes ao meu lado neste ciclo tão difícil. Sou outra atleta em relação aos Jogos do Rio. No Brasil, estava do lado dos meus amigos e da minha família. Agora, fui campeã na terra do judô. Obrigado a todos que torceram. Esta medalha não é só minha. É de todos”, disse Alana.
Parataekwondo faz estreia histórica
Destaque especial para o parataekwondo, modalidade estreante no programa paralímpico. Com três representantes na capital japonesa, o Brasil conquistou três medalhas: uma de ouro com o paulista Nathan Torquato, uma de prata, com a paulista Débora Menezes e uma de bronze com a paraibana Silvana Fernandes, terminando a competição na liderança do ranking da modalidade.
O paulista Nathan Torquato, da classe K44 até 61kg, subiu ao lugar mais alto do pódio no primeiro dia do parataekwondo no programa paralímpico. Na final, ele derrotou o egípcio Mohamed Elzayat, no Makuhari Messe Hall.
A luta decisiva nem deveria ter acontecido. O egípcio sofreu uma lesão no rosto durante a semifinal e, por segurança, não deveria ter voltado para a final. Mas os atletas chegaram a subir na área de combate e, após um golpe do brasileiro, os médicos interromperam o duelo e confirmaram Nathan como campeão.
“Primeira medalha da história do parataekwondo. Estou muito feliz por fazer parte desse momento e dessa conquista. Foi difícil, senti um pouco na primeira luta, mas cresci ao longo da competição e o resultado foi incrível”, comemorou Nathan. “Já lutei no taekwondo convencional, depois fiz a migração para o paradesporto e foi a melhor escolha da minha vida”, completou o atleta.
No atletismo, Beth Gomes confirmou o favoritismo e conquistou a medalha de ouro no lançamento de disco, na classe F52, com a marca de 17,62m, novo recorde mundial da prova. As ucranianas Iana Lebiedieva (15,48m) e Zoia Ovsii (14,37m) completaram o pódio.
Aos 56 anos, a paulista foi a última a fazer seus lançamentos e superou suas adversárias logo na primeira tentativa ao cravar 15,68m. Mesmo com a medalha garantida no peito, Beth seguiu competindo até alcançar a marca que lhe valeu o ouro e o recorde mundial.
“Mesmo sabendo da capacidade de nossa equipe, de nossos atletas, mais uma vez eles mostraram que podem ir além daquilo que a gente imagina, daquilo que a gente espera. São capazes de muito mais do que a gente pode prever. Tivemos performances espetaculares, com um brilho que me emocionou muitas vezes. Com certeza esses atletas nos mostram que faz todo o sentido esse trabalho, e isso traz ainda mais responsabilidade para seguirmos pensando num Brasil ainda melhor e que pode mais”, afirmou Mizael Conrado.
Daniel Dias
O nadador, agora aposentado oficialmente das piscinas após os Jogos de Tóquio, foi eleito neste sábado (4), membro do Conselho de Atletas do Comitê Paralímpico Internacional (IPC). O multimedalhista foi um dos seis paratletas nomeados para o grupo, que representará os competidores pelos próximos três anos até os Jogos de Paris em 2024.