O Comitê Olímpico Internacional foi criticado por não condenar as alegadas violações da China aos direitos humanos
Fonte Michael Pavitt / Inside the games
11 de agosto de 2021 / Curitiba (PR)
Durante a conferência de imprensa dos Jogos de Tóquio 2020, o presidente do COI, Thomas Bach, foi questionado sobre a possibilidade de denúncia da situação envolvendo os muçulmanos uigures na China. Mark Adams, porta-voz da entidade, interveio, explicando que a coletiva seria para tratar de assuntos relacionados ao último ciclo olímpico apenas e que perguntas dessa natureza seriam respondidas pela organização no retorno a Lausanne, na Suíça, sede da entidade. Uma pergunta sobre as expectativas do COI para Pequim 2022 também foi rejeitada.
A falta de posicionamento público sobre o assunto foi criticada por grupos de direitos humanos, incluindo o World Uyghur Congress e o Tibet Action Institute.
Zumretay Arkin, diretor de campanhas e defesa do World Uyghur Congress, disse: “O fracasso do COI em defender os direitos humanos durante um genocídio em curso contra os uigures e graves violações dos direitos humanos no Tibete, Hong Kong, Mongólia do Sul e China continental será lembrado para sempre pelos cidadãos do mundo. É importante reiterar que o esporte e as questões políticas e sociais sempre estarão interligados”.
Em Xinjiang, a China foi acusada de usar trabalho escravo uigur, operar um programa de vigilância em massa, deter milhares em campos de detenção, realizar esterilizações forçadas e destruir intencionalmente a herança uigur. Um relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos, publicado em janeiro, apontou as práticas como equivalentes a genocídio.
Pequim afirma que os campos são centros de treinamento projetados para reprimir o extremismo islâmico e o separatismo, e nega as acusações contra eles. Políticos da Grã-Bretanha, Austrália e Estados Unidos pediram um boicote diplomático devido ao alegado abuso aos direitos humanos em Hong Kong e de muçulmanos uigures.
O COI foi acusado de mostrar “indiferença ao genocídio” em uma audiência do Comitê Executivo do Congresso na China (CECC) na semana passada, com o órgão interrogando patrocinadores olímpicos dos Estados Unidos. Empresas como Airbnb, Coca-Cola, Intel, Procter & Gamble e Visa – todos fazem parte do programa The Olympic Partner (TOP) – foram questionadas sobre o patrocínio dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de inverno do próximo ano.
Uma coalizão representando grupos tibetanos, uigures, de Hong Kong e da democracia chinesa reuniu-se com funcionários do COI em outubro, pedindo que os Jogos Olímpicos de 2022 fossem mudados por causa das alegações. Students for a Free Tibet, We The Hongkongers, International Tibet Network, World Uyghur Congress, e Humanitarian China/China Against the Death Penalty estavam entre as organizações representadas.
Lhadon Tethong, diretor do Tibet Action Institute, argumentou que o fato de o COI optar por ignorar que a China não é uma anfitriã adequada aos Jogos Olímpicos não dá escolha aos governos, patrocinadores e atletas senão boicotar Pequim 2022.
“Ao comparecer aos jogos, os líderes da China entenderão isso como um endosso para suas políticas genocidas e repressivas, e a vida de uigures, de tibetanos, da população de Hong Kong, de ativistas de direitos humanos chineses e de todos os povos visados ficará ainda pior. Enquanto o COI se recusar a cancelar ou mudar os jogos, o boicote é a única opção. Com milhões de vidas em jogo, devemos fazer tudo o que pudermos para pressionar por mudanças”.
Bach disse, em março, que o COI “não é um governo supremo” quando questionado sobre o histórico da China em violações aos direitos humanos. Ele afirmou repetidamente que “um boicote aos Jogos Olímpicos nunca alcançou nada”, com a organização permanecendo neutra em questões políticas. A Human Rights Watch pediu que o COI adote novas estratégias antes de Pequim 2022 para ajudar a impedir graves abusos aos direitos humanos, evitando que os jogos se tornem um “espetáculo triunfal da China comunista”.
Em dezembro de 2020, diversas recomendações para uma estratégia efetiva ligada a abordagens referentes aos direitos humanos pelo COI foram apresentadas por especialistas independentes: o príncipe Zeid Ra’ad Al-Hussein, ex-alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, e Rachel Davis, vice-presidente do Shift, um centro sem fins lucrativos de especialização em negócios e direitos humanos.
Este documento foi encomendado pelo COI em 2019 e desenvolvido após um processo consultivo com a equipe interna e especialistas. A pressão parece destinada a aumentar no COI após a conclusão dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, já que faltam apenas seis meses para o início de Pequim 2022, com os Jogos Olímpicos de Inverno, que serão realizados de 4 a 20 de fevereiro, e os Jogos Paralímpicos de Inverno, de 4 a 13 de março.