Boris Johnson alega que atletas transgênero não devem competir em categorias femininas do esporte

Boris Johnson alega que atletas transgênero não devem competir em categorias femininas do esporte

Declaração foi feita logo após a polêmica envolvendo a ciclista Emily Bridges, que foi impedida de competir no Campeonato Nacional Britânico de Ciclismo

Por Helena Sbrissia / Global Sports
8 de abril de 2022 / Curitiba (PR)

Boris Johnson, o primeiro-ministro do Reino Unido, declarou na quarta-feira (6), durante uma visita a um hospital, que acredita que mulheres transgênero não devam competir em eventos femininos esportivos. A declaração aconteceu após a ciclista transgênero Emily Bridges, de 21 anos, ser impedida de entrar no Campeonato Nacional Britânico de Ciclismo no fim de semana.

“Eu não acho que homens biológicos devam competir em eventos esportivos femininos. Talvez eu esteja sendo controverso na minha fala, mas parece sensato, para mim, dar essa opinião. Eu também acho que as mulheres deveriam ter espaços – seja em hospitais, prisões ou vestiários – dedicados a elas. Isso não significa que eu não seja solidário com a causa trans, realizar a transição é fundamental e devemos dar a essas pessoas o máximo de amor e apoio nessas tomadas de decisão.”

O presidente da UCI, David Lappartient, disse estar preocupado com a justiça do esporte © Getty Images

Johnson reitera a complexidade das questões, que não podem ser resolvidas com uma legislação rápida e fácil, por isso, é preciso muita reflexão sobre o assunto. Nigel Huddleston, ministro do esporte britânico, afirmou na semana passada que o esporte enfrenta um momento crucial ao lidar com a participação de transgêneros, e enfatizou que os órgãos governamentais devem criar critérios para permitir a participação desses atletas em condições equitativas.

O caso da ciclista Emily Bridges

As declarações de ambos aconteceram após a União Ciclista Internacional (UCI) decidir que Emily era inelegível para competir no Campeonato Nacional Britânico de Ciclismo. Esse evento marcaria a primeira participação da ciclista competindo na categoria feminina como mulher transgênero, visto que, durante suas terapias, ela competia nas corridas masculinas.

Segundo Bridges, ela está participando de um estudo na Universidade de Loughborough para monitorar impacto da redução da testosterona em seu desempenho e, por isso, divulgou um comunicado afirmando que a UCI agiu com pouca clareza sobre sua elegibilidade, além dela ter sido “assediada e demonizada”. Os regulamentos da UCI exigem que atletas transgêneros forneçam uma declaração escrita e assinada de que sua identidade de gênero é feminina e demonstrem, para satisfação de um painel de especialistas, que a concentração de testosterona em seu soro foi inferior a cinco nanomols por litro por um período de 12 meses.

Os regulamentos dizem que a UCI precisa “estabelecer condições para a participação no esporte do ciclismo, incluindo categorias de elegibilidade que protejam a saúde e a segurança dos participantes e garantam uma competição justa e significativa que exiba e recompense os valores fundamentais e o significado do esporte.” David Lappartient disse à BBC na última semana que estava preocupado com a decisão tomada, afirmando que as regras existentes não eram mais suficientes.

A ciclista transgênero Emily Bridges © Ovación Uno

Um grupo chamado Union Cycliste Feminine endereçou uma carta a Lappartient e outros funcionários da UCI e, ao todo, 76 atletas olímpicos aposentados, ciclistas de elite, cientistas e pesquisadores pediram que a UCI reincidisse suas regras existentes para implementar critérios de elegibilidade para a categoria feminina “baseada em características biológicas.”

Segundo a carta, as ciclistas estavam dispostas a boicotar o Campeonato Nacional para que a UCI e a British Cycling ouvissem suas preocupações sobre “justiça no ciclismo”. A entidade disse que agora está pedindo uma “coalizão” para abordar a participação de transgêneros e não-binários em esportes de elite. Os regulamentos existentes da UCI foram introduzidos em 2020, espelhando as regras adotadas pela World Athletics.

A Federação Britânica de Ciclismo declarou que, como os campeonatos nacionais são utilizados para atribuir pontos ao ranking internacional, a participação de Emily só pode se dar se sua elegibilidade para competições internacionais for confirmada – um processo que ainda está em andamento. Bridges começou a terapia hormonal há um ano e passou os últimos seis meses em contato com as entidades responsáveis sobre os critérios que ela deveria atender para participar da prova.

A questão da participação de transgêneros no esporte

Em novembro de 2019 a World Athletics sediou uma reunião em Lausanne para discutir o tema com o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) e outras federações internacionais. Em 2020 foi a vez da World Rugby introduzir regulamentos próprios concluindo que mulheres transgênero não deveriam competir no rugby feminino depois que uma revisão considerou que permitir que se elas competissem, lesões poderiam ser acarretadas devido a “diferenças fisiológicas”.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) encoraja as federações internacionais a elaborar seus próprios regulamentos, insistindo que uma política abrangente não é eficaz devido às características diferentes que cada esporte tem. A declaração atualizada do COI, publicada em novembro de 2021, disse que não deveria haver “nenhuma presunção de vantagem de desempenho”.

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