Colômbia tenta recuperar a condição de sediar os Jogos Pan-Americanos 2027

Colômbia tenta recuperar a condição de sediar os Jogos Pan-Americanos 2027

O presidente colombiano Gustavo Petro afirmou dispor de US$ 8 milhões destinados à entidade organizadora para que a cidade de Barranquilla recupere a condição de sede.

Por Raúl Daffunchio Picazo / inside the games
11 de janeiro de 2024 / Curitiba (PR)

O presidente Gustavo Francisco Petro Urrego expressou confiança de que Barranquilla poderá recuperar o direito de sediar os Jogos Pan-Americanos, cancelado pela Organização Esportiva Pan-Americana (Panam Sports) sob alegação de várias violações de contrato. As sucessivas prorrogações do pagamento da primeira das duas parcelas de US$ 4 milhões foi a gota d’água que esgotou a paciência da entidade liderada pelo chileno Neven Ilic.

O muito criticado presidente colombiano fez a declaração numa coletiva de imprensa após reunião na terça-feira com Alejandro Char, prefeito de Barranquilla; Eduardo Verano, governador do Estado do Atlántico; Ciro Solano, presidente do Comitê Olímpico Colombiano; e os ministros Álvaro Leyva, das Relações Exteriores, e Astrid Rodríguez, dos Esportes, para coordenar um plano para recuperar o direito de sediar os jogos de 2027.

Ele afirmou dispor dos US$ 8 milhões necessários para trazer os Jogos Pan-Americanos de volta a Barranquilla, cumprindo o contrato assinado. “Elaboramos um plano para recuperar os Jogos Pan-Americanos e Caribenhos. O que queremos anunciar é que os US$ 8 milhões para a concessão dos direitos aos Jogos Pan-Americanos estão disponíveiss e podem ser transferidos a qualquer momento se a outra parte do acordo julgar necessário.”

Diante de críticas implacáveis do público e dos políticos da oposição, ele afirmou que todos os meios diplomáticos seriam usados para recuperar a sede. Ele autorizou o ministro Alvaro Leyva a entrar em contato com presidentes e ministros das Relações Exteriores para buscar apoio político para que a cidade caribenha recupere o direito que perdeu devido à ineficiência da burocracia política da Colômbia.

O presidente colombiano espera que a decisão de retirar a sede dos Jogos Pan-Americanos de 2027 da Colombia não seja aprovada na Assembleia Esportiva da Panam, a ser realizada em fevereiro. Por esse motivo, ele tentará usar o poder do lobby e da persuasão diplomática, além de agora mostrar entusiasmo pelos jogos – algo que não aconteceu desde que assumiu a presidência da Colômbia.

Para demonstrar o compromisso que assumiu depois de perder o direito de sediar os jogos, o presidente Petro fará uma breve escala em sua viagem à Antártica para passar pelo Chile e visitar o presidente Gabriel Boric, buscando apoio. Depois se encontrará com Neven Ilic, o presidente da Panam Sports.

De acordo com Petro, em sua reunião com Ilic, ele tentará “esclarecer os mal-entendidos e dar as garantias necessárias para que a Colômbia possa realizar os jogos”. Ele assegura que não foram más intenções, mas problemas burocráticos causados por funcionários inexperientes que levaram ao não pagamento das garantias necessárias e prometidas para sediar o maior evento esportivo após as Olimpíadas.

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Vale a pena notar que a boa vontade agora expressa pelo presidente Petro marca uma mudança significativa em relação aos eventos recentes. Após o anúncio em agosto de 2021 de que Barranquilla sediaria os 20os Jogos Pan-Americanos, a Colômbia consistentemente não conseguiu cumprir seus compromissos econômicos. A primeira metade do pagamento era devida até meados de 2022, mas o pagamento não foi realizado e foram solicitadas várias extensões do prazo pelo comitê organizador local.

Em agosto de 2023, a Panam Sports enviou uma carta ao Comitê Olímpico Colombiano (COC), ao governo do departamento de Atlántico (capital Barranquilla) e ao presidente Gustavo Petro, ameaçando retirar a sede de Barranquilla. As autoridades conseguiram salvar os jogos por um tempo e obtiveram nova prorrogação do prazo.

Em 30 de agosto de 2023 a Panam Sports concedeu outra extensão até 29 de outubro, que a Colômbia mais uma vez não conseguiu cumprir. Sete dias antes do prazo, a Panam Sports pediu outra extensão, que foi concedida com a promessa de que o dinheiro estaria disponível. Na verdade, a ministra Astrid Rodríguez assinou o documento oficial afirmando dispor do valor total (US$ 8 milhões), mas não realizou o pagamento apesar do ultimato.

Essas seguidas prorrogações e promessas não cumpridas pela Colômbia e a falta de interesse demonstrada pelo presidente, além de vários desentendimentos, esgotaram a paciência da Panam Sports, que retirou os jogos de Barranquilla.

O presidente Petro parece ter arriscado demais ao não cumprir seus compromissos por mais de um ano e meio, prometendo coisas que não entregaria e assinando documentos que não honraria. Agora, em uma coletiva de imprensa, ele tenta salvar sua reputação presidencial, que está em um nível mínimo histórico. Ele culpa as autoridades por problemas de longa data numa tentativa desesperada de recuperar o que perdeu por conta própria.

A boa vontade da Panam Sports determinará se o presidente, que tem jogado com fogo desde que assumiu o cargo, será queimado ou conseguirá salvar-se e, acima de tudo, evitar o que seria o maior constrangimento para a Colômbia dos últimos tempos.

Mas não seria o primeiro: há 40 anos, depois de uma situação semelhante (agravada pela insegurança predominante durante um período marcado pela violência ligada ao tráfico de drogas) a Colômbia perdeu o direito de sediar a Copa do Mundo da FIFA de 1986.

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