Entidade conta com uma equipe de profissionais dedicados a acompanhar de perto os atletas do Time Brasil
Fonte COB
21 de setembro 2021 / Curitiba (PR)
A saúde mental dos atletas foi um dos assuntos mais comentados durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. O caso da ginasta americana Simone Biles, que desistiu de competir em algumas provas por problemas emocionais, gerou inúmeros debates. Atento ao tema, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) desenvolve um trabalho de longo prazo com os esportistas do Time Brasil e conta com uma equipe de profissionais de saúde mental formada por dez psicólogas, além de um psiquiatra e um coach. No Setembro Amarelo, campanha mundial sobre a prevenção ao suicídio, a entidade reforça a importância do esporte se inserir no movimento.
“Os exercícios físicos são muito importantes no progresso da saúde mental da população em geral. Estudos relatam a diminuição da incidência de depressão com a prática de atividades esportivas, por conta de neurotransmissores e hormônios que levam a sentimentos de prazer. Então, o esporte também tem que ser visto como promoção da saúde mental. Neste mês, a atividade física vem complementar o tratamento de prevenção ao suicídio. Costumamos falar na medicina esportiva que exercício é remédio”, destaca a coordenadora médica do COB, Ana Carolina Côrte.
Para chegarem no auge da performance, os atletas se submetem a treinamentos intensos e podem chegar ao limite físico e mental. Em alguns casos, o esgotamento traz impacto e deve ser bem observado.
“O atleta deve estar sempre atento a eventuais mudanças do comportamento e até mesmo de suas emoções, que podem prejudicar o rendimento esportivo ou a vida fora do esporte. Apesar da prática de atividades físicas ser essencial para a saúde, o alto rendimento é capaz de levar o atleta à exaustão física e mental, de modo que a assistência a esse grupo deve ser a mais completa e humanizada possível”, enfatiza o psiquiatra Hélio Fadel, que presta serviços ao COB.
Segundo Fadel, algumas linhas de estudo discutem que, para certos atletas, o alto rendimento é fator de risco para o surgimento de patologias mentais – e também na potencialização de quadros pré-existentes.
“Ninguém está imune a essas patologias. Se perceber que não está se sentindo bem, peça ajuda. Não existe isso de que depressão ou ansiedade são sinais de fraqueza”, completa o especialista.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de países de maior prevalência à depressão, principal fator de risco que leva ao suicídio, e é também o país com maior prevalência de Transtornos de Ansiedade no mundo (estima-se 9,3% da população). No mundo, transtornos mentais são a causa de 96,8% dos suicídios.
“A saúde mental é um dos pilares mais relevantes dentro do contexto esportivo. Por muito tempo, os cuidados foram voltados ao eixo treino-dieta-sono. No entanto, nas últimas décadas, o tema vem ganhando a devida atenção pela própria influência que exerce nesses âmbitos. Para o atleta, é crucial estar bem consigo mesmo, em harmonia com o meio externo, para ter sucesso na rotina alimentar, na qualidade do sono e no desempenho em treinos e competições. Ou seja, a saúde mental rege diversos domínios do ser humano e acaba sendo determinante para a evolução ou insucesso do atleta, tanto na qualidade de vida como na performance”, afirma Hélio Fadel.
A campeã olímpica Rebeca Andrade passou por uma série de lesões e cirurgias até atingir o ápice da carreira, nos Jogos de Tóquio. Para superar as dificuldades, a ginasta conta com apoio psicológico desde os 13 anos.
“A psicologia sempre foi muito importante na minha carreira. Ter uma profissional voltada a isso, que entenda a vida do atleta e tudo que o esporte exige, é muito bom. Ela acompanhou os bons e maus momentos da minha carreira e foi fundamental para o meu crescimento na ginástica”, afirma a ginasta de 22 anos.
“Quando tive a primeira lesão, era muito nova e não sabia como lidar com a situação. Já quando me contundi em 2019, lidei de uma forma totalmente diferente. Isso me ajudou muito a alcançar meus objetivos e conquistar as medalhas em Tóquio. Tudo isso foi um processo, e precisei trabalhar muito para ter certeza que estava pronta. Eu me cobrava muito e, quando não atingia a perfeição, ficava muito mal. A psicóloga me ensinou a trabalhar isso dentro da minha mente. Por isso cheguei tão bem em Tóquio”, revela Rebeca, ouro e prata em Tóquio 2020.