Ele, que é considerado o paratleta mais rápido do mundo, fez o tempo de 10s53, batendo o recorde paralímpico que pertencia a ele mesmo
Fonte G1
27 de agosto de 2021 / Curitiba (PR)
Petrúcio Ferreira dos Santos conquistou o ouro nos 100m rasos nas Paralimpíadas de Tóquio e se tornou bicampeão, repetindo o feito obtido no Rio de Janeiro, em 2016, pela classe T47 (para atletas com deficiências nos membros superiores). Com um tempo de 10s53, ele melhorou o seu recorde da prova nos Jogos Paralímpicos, que era de 10s57. Além disso, ele já era o recordista mundial da prova, com 10s42.
A esposa de Petrúcio Ferreira, Martha Pereira, assistiu à vitória do marido na casa onde moram, em João Pessoa. Emocionada, ela confessa que estava confiante e já esperava pelo ouro. “Ele dá 100% do corpo dele todos os dias e a consequência é essa medalha. Um orgulho para o Brasil inteiro”, disse. Os períodos de treino de Petrúcio foram de muito trabalho para que continuasse sendo o corredor paralímpico mais rápido do mundo. E deram resultado.
Após um distanciamento social por quase sete meses do atleta da classe T47, o treinador paraibano Pedrinho Almeida comandou treinos com o velocista em areia de praia, pista de barro e academias improvisadas até que as atividades físicas na pista sintética da Universidade Federal da Paraíba pudessem ser retomadas, em janeiro deste ano.
Pedrinho, além de se preocupar com o aspecto físico e mental do atleta, levou em consideração outro fator para colocar seu trabalho em prática: o mar. “Na época, exploramos muito a dinâmica do mar para elaborarmos os treinos. Na maré baixa, por exemplo, aproveitava a areia mais dura para trabalhar mais o aspecto técnico, tiros, enquanto na maré alta, fazia atividades aeróbicas na areia mais fofa”, explica Pedrinho.
Petrúcio acumula grandes resultados na carreira. Nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro, o brasileiro faturou três medalhas, uma de ouro nos 100m, uma de prata nos 400m e outra de prata no revezamento 4x100m. E com tantos feitos, foi o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura das Paralimpíadas de Tóquio. Agora, viveu mais um momento histórico no Japão.
Em 2019 no Mundial de Dubai, ele faturou ouro nos 100m e 400m. No Parapan de Lima, o atleta conquistou o ouro nos 100m e a prata nos 400m. Além disso, é o atual recordista mundial nos 100m e 200m.
História do paratleta mais rápido do mundo
Petrúcio Ferreira nasceu em São José do Brejo do Cruz, cidade do Sertão da Paraíba que fica a pouco mais de 394km de João Pessoa. Uma família simples de agricultores, que mora ainda hoje num pequeno sítio da zona rural do município. A vida do corredor foi repleta de acasos que modificaram para sempre o seu destino.
Por exemplo, ele tinha menos de dois anos de idade quando o principal desses “acasos” aconteceu. Justamente o mais trágico, ao mesmo tempo aquele que abriria caminho para o multicampeão que ele se tornaria.
No sítio, o pai dele, Paulo, foi moer capim para servir de comida para o gado e o filho resolveu ir junto. Foi um instante. Num momento, ele estava ao lado no pai. No outro, o pai do menino escutou um grito alto e um choro. Petrúcio, curioso, colocou a mão esquerda no buraco da forrageira e a lesão foi imediata. Desesperados, a família levou o menino ao hospital e lá houve a confirmação da amputação da mão e de parte do antebraço.
O corredor não lembra dos episódios daquele dia. Nem carrega traumas. Sempre levou a situação com naturalidade e cresceu como uma criança feliz. Até que veio o segundo acaso de sua vida, esse bem mais feliz.
Petrúcio era apaixonado por futebol. Jogava futsal em seu colégio. E foi a Patos jogar a etapa regional dos Jogos Escolares da Juventude. Lá, jogando de igual para igual com os adversários, correndo e demonstrando uma velocidade incomum, acabou chamando a atenção de Ricardo Ambrósio, um dos organizadores da competição naquele dia.
Foi ali mesmo que Ricardo ligou para Pedro Almeida, o Pedrinho, técnico de atletismo da Universidade Federal da Paraíba. Era um achado, dizia Ricardo Ambrósio, que Pedrinho precisava conhecer.