Conselho Executivo do COI agora pode suspender modalidades do programa olímpico

Conselho Executivo do COI agora pode suspender modalidades do programa olímpico

A medida será aplicada quando não houver adequação às recomendações da mesa diretora da entidade e, em última instância, pode resultar em exclusão do programa olímpico

Por Helena Sbrissia e Paulo Pinto / Global Sports
10 de agosto de 2021 / Curitiba (PR)

Em votação realizada no sábado (7), penúltimo dia dos Jogos Olímpicos de Tóquio, decidiu-se que, a partir de agora, o Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional tem poder de suspensão de esportes, eventos e disciplinas do programa das Olimpíadas. Para isso, a regra 45 do estatuto foi alterada.

A necessidade de novas regras foi apresentada aos membros pelo vice-presidente do COI, John Coates, que também lidera a comissão jurídica da entidade e é um aliado próximo do presidente Thomas Bach. “No passado recente, o COI confrontou-se com situações que levantaram sérias preocupações em relação à governança de certas federações internacionais”, disse Coates na reunião final dos Jogos de Tóquio 2020.

O Conselho Executivo, comandado pelo presidente do COI, tem agora o poder de suspender uma modalidade esportiva dos Jogos Olímpicos, caso seu corpo diretivo se recuse a cumprir alguma determinação ou que contrarie as normas do estatuto da entidade. Antes, decisões desse tipo eram tomadas por uma assembleia formada pelos países-membros e integrantes do programa olímpico.

Esse movimento centraliza, ainda mais, o poder de decisão no órgão dirigente, a partir de alterações na Carta Olímpica e, agora, cabe ao Conselho Executivo “recomendar” a remoção de modalidades.

O documento esclarece que “a assembleia pode remover qualquer esporte do programa dos Jogos Olímpicos se, entre outras violações, a federação que rege tal esporte não cumprir as determinações do Conselho Executivo do COI, ou se a federação agir de maneira que possa manchar a reputação do Movimento Olímpico.”

Divergências entre o COI e a IWF

As novas medidas podem afetar algumas entidades, como a Federação Internacional de Levantamento de Peso (IWF). A vaga da modalidade em Paris 2024 está ameaçada devido aos casos excessivos de doping associados aos recorrentes problemas administrativos. “Estamos apenas fazendo o nosso melhor para mostrar que o esporte é limpo, tentando convencer o COI de que o levantamento de peso tem futuro”, disse Forrester Osei, vice-presidente da comissão de atletas da IWF.

O doping é pauta antiga no meio do levantamento de peso. O maior problema, segundo sites especializados, é a falta de confiança de espectadores e dirigentes no esporte. Lasha Talakhadze, por exemplo, quebrou três recordes mundiais em Tóquio 2020, levantando um total de 488 quilos. Em 2013, contudo, ele havia sido banido do esporte por dois anos após testar positivo para a utilização de esteroides proibidos.

Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional © Getty Images

Os praticantes afirmam que o esporte está progredindo em relação aos piores momentos vividos entre os ciclos olímpicos de 2008 e 2012, quando mais de 30 medalhistas tiveram suas honrarias anuladas por terem sido pegos em exames antidoping tardios.

Uma investigação do canadense Richard McLaren, publicada logo após a renúncia de Tamas Ajan da presidência da IWF, revelou muitos casos de doping encobertos pela federação internacional, além de multas pagas em dinheiro vivo e mais de US$ 10 milhões desaparecidos. Ajan negou qualquer irregularidade. Contudo, o vice-presidente Nicu Vlad e o membro do conselho Hasan Akkus foram suspensos em junho, acusados ​​de interferir em casos de doping.

“Talvez tenhamos testado demais a paciência do COI”, disse o CEO da USA Weightlifting, Phil Andrews. Ele era um importante apoiador da presidente interina Ursula Papandrea, que acusou outros membros do conselho de intimidar e obstruir a reforma absolutamente necessária da IWF. Segundo ele, no final das contas, o COI, em particular, disse: “Vocês precisam de uma nova liderança. Não queremos ver as mesmas pessoas no comando”.

Após essa nova medida, ganhou corpo um movimento para que todos os líderes da IWF renunciem imediatamente para evitar a iminente exclusão dos jogos. Isso incluiria figuras importantes como o grego Pyros Dimas, tricampeão olímpico da modalidade entre 1992 e 2000, bem como as federações da Bélgica, Estados Unidos, Grécia, Samoa e Alemanha.

No fim de agosto, entre os dias 28 e 29, será realizada uma reunião para definir e aprovar a nova constituição da entidade internacional do levantamento de peso. É provável que, na ocasião, o documento de compromisso inclua algumas das principais demandas dos reformadores, especialmente no reforço do direito dos atletas a assentos no conselho.

A falta de confiança na AIBA

Outro exemplo é a Associação Internacional de Boxe (AIBA). Em 2019, decidiu-se suspender o reconhecimento olímpico do esporte, eliminando qualquer envolvimento da modalidade com os Jogos Olímpicos. A decisão foi motivada pelas preocupações constantes relacionadas à governança e compliance da entidade, finanças e arbitragem.

Em 2018, quando o uzbeque Gafur Rakhimov foi eleito presidente da AIBA, as suspeitas sobre o esporte aumentaram ainda mais. Em 2012, Rakhimov fora acusado de envolvimento com um grupo internacional do crime organizado, responsável por tráfico de heroína. Ele negou veementemente as acusações feitas pelo Departamento de Tesouro dos Estados Unidos, mas renunciou ao cargo em 2019.

John Coates, vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional © AFP Jiji

Por essas e outras, o boxe olímpico saiu do controle da associação após dúvidas sobre a integridade das lutas nas Olimpíadas do Rio 2016 e preocupações do COI sobre as eleições presidenciais da entidade.

Em maio de 2021, a AIBA anunciou que havia liquidado suas dívidas após pagar um empréstimo de US$ 10 milhões à empresa do Azerbaijão Benkons LLC. Entretanto, o COI ainda irá analisar o desempenho do boxe nas Olimpíadas de Tóquio e as reformas realizadas pelo atual presidente Umar Kremlev antes de decidir se restabelece seu ou não o reconhecimento oficial.

COI anuncia mudanças no quadro de
membros do Comitê Executivo

Outra mudança administrativa no COI é a permissão de eleição de até sete membros, em casos especiais, sem uma nacionalidade ou comitê olímpico nacional. Cinco novos integrantes tomarão posse na assembleia do COI: os quatro eleitos para a comissão de atletas e a norueguesa Astrid Uhrenholdt Jacobsen, que substituiu o americano Kikkan Randall.

Representam os atletas a lenda do basquete espanhol Pau Gasol, a nadadora italiana Federica Pellegrini, o esgrimista japonês Yuki Ota e a ciclista polonesa Maja Martyna Włoszczowska. A duas vezes medalhista de bronze do hóquei no gelo Emma Terho foi confirmada no Conselho Executivo do COI após ser eleita para substituir Kirsty Coventry na presidência da comissão de atletas.

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