Atleta brasileiro que possui apenas 5% da visão, garantiu o primeiro ouro para o atletismo e o segundo do Time Brasil na Paralimpíada
Fonte UOL e GE
27 de agosto de 2021 / Curitiba (PR)
Yeltsin Jacques é o protagonista da segunda medalha de ouro do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Nesta sexta-feira (27), o atleta cruzou a linha de chegada em primeiro nos 5.000m masculino T11 (para cegos). Nascido em Campo Grande (MS), o brasileiro tem 5% de visão como resultado de uma condição retiniana congênita. Ele liderava a prova até ser ultrapassado pelo japonês Kenya Karasawa a 400m da linha de chegada, mas conseguiu reagir e retomou a dianteira.
“Nós treinamos mais de dois anos intensos para essa prova”, comemorou Yeltsin em entrevista ao SporTV depois de cruzar a linha de chegada ao lado do ao lado do atleta-guia, Carlos Antônio dos Santos.
O nome de Yeltsin Jacques é uma homenagem ao ex-presidente da Rússia, Bóris Yeltsin. “Meu pai era militar na época, era terceiro sargento do exército, e ele fala que o Bóris Yeltsin foi um pacifista. Eu nasci em 1991, época do fim da União Soviética e da guerra fria”, explicou o Yeltsin, em 2019, numa entrevista ao Correio do Estado.
O medalhista de ouro também falou sobre a tática usada na corrida. “Eu já tinha definido uma estratégia prévia e os meninos (guias) foram me passando todas as informações. O Carlos entrou e me avisou que os que estavam na disputa comigo eram o queniano e o japonês. Como a minha esposa tinha estudado antes, ela me falou tudo o que eu precisava fazer”, disse, referindo-se a Janayna, com quem é casado.
Formado em Educação Física pela Universidade Estácio de Sá, Yeltsin iniciou no atletismo aos 16 anos em Campo Grande (MS). Em 2013, estreou em competições pelo Brasil no Campeonato Mundial de Lyon, na França. Três anos depois, contraiu caxumba e sofreu uma lesão que o impediu de treinar durante quatro meses. Ele retornou às competições nos Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Talento no atletismo, Yeltsin tentou outro esporte antes de decidir correr. Praticou judô, mas desistiu. “Comecei a correr com um amigo que era cego e gostava de correr como preparação para o judô. Apaixonei, larguei o judô e comecei o para-atletismo”, revelou o atleta antes do embarque para o Japão.
Fã do maratonista medalhista de bronze em Atenas 2004 Vanderlei Cordeiro de Lima, Yeltsin conquistou ouro nos Jogos Parapan de Lima nos 1.500m, em 2019. Antes, em Toronto 2015, pendurou a medalha dourada no pescoço nos 5.000m. A coleção tem, ainda, prata nos 1.500m e bronze nos 800m no Mundial de 2013 da França.
Suas conquistas anteriores, no entanto, foram nas classes T12 e T13, com deficiência mais leve. Ele nasceu com apenas 5% de sua visão. Após uma reclassificação oftalmológica realizada no começo deste ano, ele foi considerado T11, na qual é obrigatório correr ao lado de um guia.
Jacques ainda tem mais dois compromissos pela frente em Tóquio. No domingo (29), vai correr a eliminatória dos 1.500m T11. A final será na segunda-feira (30). Já no próximo sábado (4), participará da maratona T12, prova da qual vem sua maior inspiração: o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima.