Segundo o grupo, a nova decisão do COI de orientar que direitos humanos e perspectivas jurídicas sejam considerados nas avaliações caso a caso ignora a ciência e se concentra apenas na inclusão
Fonte Liam Morgan / Inside the Games
19 de janeiro de 2022 / Curitiba (PR)
Um grupo de médicos especialistas ligados à Federação Internacional de Medicina Esportiva e à Federação Europeia de Associações de Medicina Esportiva alertaram o Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre a posição da entidade em relação a atletas transgêneros, alegando que há um foco maior na inclusão do que na ciência.
Em novembro, o COI atualizou sua estrutura interna de diretrizes sobre a participação de atletas transgêneros, que devem ser aplicadas aos próximos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022. As novas indicações, segundo o grupo, afastam-se do posicionamento adotado em 2015, no qual o COI abordava a participação de atletas transgêneros com base nos níveis de testosterona.
Pela estrutura anterior, os atletas que buscavam competir na categoria feminina precisariam reduzir sua testosterona para menos de 10 nmol/l por pelo menos 12 meses. Para o grupo de médicos, a nova tomada de decisão do COI “contraria o resultado do consenso de 2015, as evidências científicas e a avaliação subsequente de numerosas associações e comissões de medicina esportiva.”
Um grupo de 38 especialistas e cientistas assinou o documento, incluindo dois membros da própria Comissão Médica e Científica do COI, argumentando que padrões devem ser estabelecidos sobre o assunto de uma vez por todas, em vez de se fornecerem “recomendações” a serem seguidas por federações internacionais. “A nova estrutura do COI concentra-se principalmente em uma perspectiva específica de direitos humanos, e os aspectos científicos, biológicos ou médicos não são considerados”, afirma o documento.
O chefe do departamento médico da World Athletics, o diretor médico da União Ciclística Internacional e o presidente da Comissão Mundial de Medicina Esportiva de Remo também assinaram o documento, que eles esperam que possa desencadear o debate sobre a estrutura do COI.
Já a Human Rights Watch afirmou que a posição do COI foi um passo significativo para proteger a dignidade de todas as mulheres atletas. O grupo reiterou que isso “representa um ponto de virada para os direitos fundamentais dos atletas e um impulso para a inclusão das mulheres nos esportes em todo o mundo”.
Em resposta ao documento, um porta-voz do COI disse que a entidade “compartilha os objetivos dos autores da declaração, principalmente em relação à proteção dos direitos de todos os atletas e fornecer ferramentas às federações internacionais para garantir inclusão e justiça”.
“O COI revisou muitos dos estudos científicos relevantes que existem sobre o tema. Não há uma resposta certa da ciência nesse estágio, porque as evidências científicas precisam ser específicas para cada esporte, porque as possíveis vantagens competitivas mudam conforme a modalidade. Isso porque um bom desempenho significa coisas muito diferentes nos variados esportes.”
Segundo o porta-voz, o COI vai continuar a alavancar o fundo de pesquisa existente para apoiar as federações internacionais e promover mais pesquisas sobre esses tópicos. “A estrutura não exclui as considerações médicas, mas também convida as federações a incluírem os direitos humanos e as perspectivas jurídicas em suas análises, a fim de criar regras o mais inclusivas, possível”, finaliza.