Com presença de ícones do esporte e autoridades, audiência pública reforça urgência por equidade, liderança feminina e transformação estrutural no alto rendimento.
Por Paulo Pinto / Global Sports
Curitiba, 14 de julho de 2025
O protagonismo das mulheres no esporte brasileiro foi o foco central da audiência pública realizada nesta quarta-feira (9), pela Comissão do Esporte do Senado Federal. O encontro reuniu atletas históricas, representantes de entidades esportivas e autoridades governamentais para discutir caminhos concretos rumo à equidade de gênero nas estruturas de alto rendimento.
Representando o Ministério do Esporte, a secretária nacional de Excelência Esportiva, Iziane Marques, reforçou que garantir acesso, permanência e reconhecimento às mulheres nos ambientes esportivos passa por enfrentar barreiras estruturais profundas — que vão desde desigualdade salarial até a invisibilidade midiática.

“O debate sobre igualdade de gênero é, antes de tudo, sobre garantir direitos. Precisamos de políticas públicas robustas, que escutem as atletas e as mulheres que atuam na gestão esportiva”, afirmou Iziane.
Direito de todas, da base à liderança
Entre as ações do governo federal destacadas por Iziane estão a ampliação do programa Bolsa Atleta, que passou a contemplar gestantes e puérperas, e o programa Revelar Talentos, que incentiva a presença feminina desde as categorias de base até o processo de transição de carreira.

Ela também ressaltou que a promoção da igualdade precisa se estender aos bastidores do esporte. “As mulheres devem estar nas quadras, nas pistas, mas também nas comissões técnicas, nos conselhos e na liderança das instituições. Isso já está em andamento dentro do próprio ministério”, destacou, citando o comando feminino de áreas estratégicas como a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), presidida por Adriana Taboza.
Atletas históricas ecoam a urgência
A audiência contou com a presença de ícones do esporte brasileiro, como Daiane dos Santos, Joanna Maranhão, Jaqueline Silva, Valeska dos Santos Meneses e Verônica Hipólito. Entre os depoimentos mais marcantes, Yane Marques — primeira mulher a ocupar a vice-presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB) — compartilhou sua experiência como atleta, mãe e gestora nordestina.
“Minha trajetória como dirigente esportiva é uma extensão da minha história como mulher. São 111 anos de história até que uma de nós assumisse esse posto. Meu papel agora é abrir portas para que muitas outras venham depois.”

Verônica Hipólito, atleta paralímpica, foi ainda mais incisiva ao apontar que a luta das mulheres no esporte precisa incluir o combate ao capacitismo.
“Nós, do movimento paralímpico, enfrentamos o machismo e o preconceito contra pessoas com deficiência. Ainda há um longo caminho para que possamos ocupar espaços de liderança no CPB e no esporte como um todo.”
Um caminho ainda longo
Presidente da comissão, a senadora Leila Barros — primeira mulher olímpica eleita senadora no Brasil — encerrou o encontro com uma mensagem direta.
“Falar de igualdade de gênero no esporte é reconhecer que os avanços não bastam. Precisamos romper com estruturas que limitam talentos e atrasam o desenvolvimento esportivo do país. As vozes dessas mulheres são fundamentais para desenhar políticas mais justas e transformadoras.”
Participações de destaque
Além das atletas e autoridades governamentais já citados, participaram da audiência os senadores Carlos Portinho (PL-RJ), Teresa Leitão (PT-PE) e Chico Rodrigues (PSB-RR), que também é vice-presidente da Comissão de Esporte. Estiveram presentes ainda Soraya Nobre, gestora da área Mulher no Esporte do Comitê Olímpico do Brasil (COB), e Wlamir Leandro Motta Campos, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
Caminho desafiador
A audiência pública promovida pela Comissão do Esporte do Senado ampliou o debate sobre igualdade de gênero no esporte e reafirmou a urgência de políticas públicas que garantam estrutura, visibilidade e oportunidades reais para as mulheres. Ao reunir atletas históricas, dirigentes, parlamentares e representantes de entidades esportivas, o encontro lançou luz sobre um caminho ainda desafiador, mas inadiável. Mais do que uma agenda de governo, a equidade de gênero se consolida como um compromisso coletivo com um esporte mais justo, plural e verdadeiramente transformador.